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Detalhe

Arquivo Fotográfico, 80 anos

A importância dada à imagem fotográfica assinalou uma nova era de informação

Palácio Penafiel na rua de São Mamede, 1901
Palácio Penafiel na rua de São Mamede, 1901

registo no catálogo

A importância dada à imagem fotográfica assinalou uma nova era de informação num enquadramento moderno.

No âmbito da criação do Arquivo Fotográfico Municipal em 1942, e da comemoração dos seus 80 anos em 2022, destacamos o Fundo Antigo pelo facto de ser o conjunto de imagens que melhor ilustra a constituição de um acervo fotográfico municipal como conjunto documental de registo da cidade e de trabalho interno na transição do século XIX para o século XX, sendo a génese de uma vontade estruturante de modernizar os serviços camarários, manifestada no planeamento urbanístico e, posteriormente, na atividade cultural, entre o período de 1933 e 1943.

Este conjunto, e a exposição “Os últimos dez anos de acção cultural 11 de maio de 1933 a 11 de maio de 1943” no Palácio Galveias, que decorreu em 1943, igualmente fotografada através de encomenda ao Estúdio Mário Novais, revelam a importância do registo fotográfico em dois períodos temporais, fundamentais à constituição do Arquivo Fotográfico. 

O primeiro, com um núcleo de imagens da cidade num inventário exaustivo e o segundo, com uma manifestação expositiva, para assim apresentar os diversos esforços, visando a organização dos serviços municipais essenciais à atividade cultural, incluindo o Arquivo Histórico e, por sua vez, o núcleo fotográfico, que suportou a ilustração de múltiplos eventos e momentos desta cronologia. 

A importância dada à imagem fotográfica assinalou uma nova era de informação num enquadramento moderno.

O projeto fotográfico explícito no Fundo Antigo representa uma primeira fase das ações de modernização da cidade promovida pela edilidade, só possível com o apoio do arquiteto José Luís Monteiro (1848-1942), dando a possibilidade de concretização de um vasto trabalho, aparentemente impensável numa época conturbada vivida em Portugal.
As fotografias são da autoria de Arthur Júlio Machado (1867-1947) e José Candido d’Assumpção e Souza (1856-1923), desenhadores da Câmara Municipal de Lisboa, e representam ruas e locais da cidade de Lisboa, entre 1898 e 1908.
Este fundo é constituído por 3916 negativos de vidro, de gelatina e prata, no formato 13x18 cm e provas em albumina e papel direto, coladas em cartão estandardizado, impresso pela Instituição, bem como provas de trabalho em cianotipia.

Quanto à exposição ocorrida no Palácio Galveias, representativa das iniciativas culturais, estava distribuída por vários serviços, tendo sido publicado um catálogo com um roteiro da exposição, ilustrado por fotografias.

Neste enquadramento, importa referir o encadeamento temporal das deliberações municipais, as quais permitiram uma estrutura interna vocacionada para a promoção da Cultura e do espólio camarário, incluindo o acervo fotográfico.

Em 1931 deu-se a 'Definitiva Organização e Regulamento das Bibliotecas, Arquivo e Museus Municipais', aprovada na sessão de câmara de 24 de dezembro de 1931, e no ano de 1933 foi apresentada pelo Vereador Luiz Pastor de Macedo à Comissão Administrativa Municipal, na sessão de 11 de maio, a proposta de criação do «Pelouro dos Serviços Culturais», com o seguinte teor: “a criação de um Pelouro dos Serviços Culturais […] Em nome da Arte, da Estética citadina, dos princípios nacionalistas e dos interesses desta cidade, chamo a atenção de V. Ex.as, para a conveniência de ser criado o Pelouro dos Serviços Culturais.”1  

Em 1937, a Direcção dos Serviços Culturais e de Acção Social tinha na sua alçada os seguintes serviços: Serviço de Propaganda e Turismo e Serviço de biblioteca, museus e arquivo histórico.

Um ano mais tarde, por Despacho do Presidente da Câmara de 21 de maio de 1938, a organização dos serviços da Direcção dos Serviços Centrais foi dividida em quatro repartições: 1ª Repartição (Central) com a 1ª Secção – Expediente, 2ª Secção – Escrivania, 3ª Secção – Arquivo Geral; 2ª Repartição (Pessoal); 3ª Repartição (Ouvidoria); 4ª Repartição (Serviços Culturais), um Serviço de Publicidade e Propaganda, e a Polícia Municipal, sendo os Serviços Culturais e Turismo considerados a quarta repartição.

Em 1939, iniciou-se a publicação Anais do Município de Lisboa, referente ao ano anterior, da responsabilidade da Secretaria de Propaganda e Turismo, o qual contemplava entre outras atividades: “[…] a organização de um documentário fotográfico e cinegráfico de realizações da Câmara” 2.  
Para além desta edição que terminou em 1968, a secretaria tinha a seu cargo a ordenação do Diário Municipal, a publicação da Revista Municipal e de obras de divulgação cultural, que incluíam imagens adquiridas a fotógrafos conceituados, como Eduardo Portugal. 

Dois anos depois, em 1941, a 'Secretaria de Propaganda e Turismo' passou a ser designada de 'Secção Propaganda e Turismo', da 'Direção dos Serviços Centrais'. Prosseguiu-se a organização do Arquivo Fotográfico, que “dentro em breve deverá abranger e disciplinar a actuação de todos os serviços municipais.” 3 

Finalmente, em 1942 deu-se a Organização dos Serviços da Câmara Municipal de Lisboa. O Arquivo Geral surge como 3ª Secção da 1ª Repartição Central e o Arquivo Histórico constitui uma secção, com as Bibliotecas, da 4ª Repartição dos Serviços Culturais:
"1º - A organização do arquivo fotográfico da C.M.L. compete à Secção de Propaganda e Turismo e à 4ª Rep. da D.S.C.
2º - À S.P.T. incumbe mandar tirar todas as fotografias que os diversos departamentos da Câmara considerem necessários ao bom desempenho dos serviços […].
3º Realizadas as fotografias e extraídas as cópias, a S.P.T. remeterá à 4ª Rep. da D.S.C. os clichés e uma cópia. A 4.ª Rep., por sua vez, procederá ao arquivo e catalogação dos clichés e fotografias, com índice e ficheiro convenientemente organizados […]
5.º O arquivo fotográfico da Câmara compreenderá obrigatoriamente: 1º Obras Municipais; 2º Serviços Municipais e 3º Efemérides.” 4 

O registo consistente dos processos construtivos das instalações municipais (mercados, parques e jardins), dos serviços (iluminação, ruas, pavimento de passeios, escolas, higiene, entre outros), dos atos solenes (exposições, concertos, etc.) e do património construído, foi uma prioridade, não só para a prossecução das atividades dos serviços camarários, como começou a ser do interesse dos munícipes, para fins de pesquisa ou mero usufruto enquanto entendimento da cidade.

No Anais do Munícipio de 1941,  a transferência de todo o acervo fotográfico para o Palácio Galveias era assim referida: “No Arquivo Fotográfico procedeu-se à identificação duma grande parte dos clichés antigos recebidos do Arquivo Geral e adquiriram-se 2.318 provas fotográficas e 491 clichés.”  e, mais tarde, incorporado no Gabinete de Estudos Olisiponenses (1958), permitiu a reunião e o tratamento do acervo acumulado pelo Arquivo Geral e a continuidade do ingresso de aquisições feitas a fotógrafos, sendo transferido em 1980 para o Palácio da Rosa.

Em 1993 o Arquivo Fotográfico foi instalado na rua da Palma, num edifício reabilitado e adaptado para acolher o acervo fotográfico. Inaugurado a 22 de março de 1994, dispunha de serviços integrados de sala de leitura, consulta informática do acervo e reprodução de imagens, salas de exposições, gabinetes técnicos de digitalização, ampliação e reprodução fotográfica, bem como conservação e restauro de fotografia.

Paula Figueiredo e Vítor Gens
Julho 2022
Arquivo Municipal de Lisboa - Fotográfico


1 MACEDO, Luís de – Exposição apresentada à Ex.ma Câmara pelo Vereador Sr. Luís de Macedo na Sessão de 11 de Maio de 1933. Anais das bibliotecas, arquivo e museus municipais. Lisboa: Tipografia Municipal. 7 a 10 (1933) 50-55. [Em linha]. [Consult. 2022-05-20].

2 DIAS, Jaime Lopes – Relatório de actividade da Direcção dos Serviços Centrais. Anais do Município de Lisboa - 1939. Lisboa: CML (ed. com). (1940), p. 17. [Em linha]. [Consult. 2022-05-19].

CARVALHO, Eduardo Rodrigues – Relatório do Presidente da CML. Anais do Município de Lisboa - 1941. Lisboa: CML (ed. com). (1942) 16. [Em linha]. [Consult. 2022-05-21]. 

4 Deliberação Municipal - Diário Municipal de 25 de março de 1942, Ano VII, n.º 2040. [Em linha]. [Consult. 2022-05-19]. 

5 CARVALHO, Eduardo Rodrigues – Relatório do Presidente da CML. Anais do Município de Lisboa - 1941. Lisboa: CML (ed. com). (1942)  16. [Em linha]. [Consult. 2022-05-21].