Skip to main content

Detalhe

A Igreja de São Vicente de Fora

Nos 850 anos da chegada das relíquias do Santo a Lisboa

 Igreja de São Vicente de Fora, fachada principal
Igreja de São Vicente de Fora, fachada principal

registo no catálogo

A fotografia da fachada da igreja de São Vicente de Fora que escolhemos para documento deste mês pertence à coleção Eduardo Alexandre Cunha, tem as dimensões de 18x24 cm, sendo o seu suporte um negativo de gelatina e prata em vidro.

Eduardo Alexandre Cunha nasceu na década de 1870 e faleceu em 1959 (PINHEIRO, 2021). Casou em 1933 com Adelaide da Piedade Carvalho Félix, de quem se divorciou em 1938. Foi fotógrafo e colecionador de fotografia, tendo vendido parte da sua coleção à Câmara Municipal de Lisboa em duas fases distintas, a primeira em 1949 e uma segunda em 1950. Esta coleção é constituída por mais de 2500  documentos fotográficos de variados temas, como jardins, monumentos e edifícios da cidade de Lisboa, mas também festejos populares, peças de teatro, comícios ou manifestações, para além de um vasto conjunto de retratos de grupo e individuais.1  

Destaca-se uma das imagens da coleção, da igreja e mosteiro de São Vicente de Fora, por representar este santo, de enorme relevância para a cidade. Esta igreja foi mandada reconstruir por D. Filipe I quando, em 1581, veio a Portugal, tendo sido inaugurada em 1629 com grandes cerimónias religiosas. 

Nas dependências da igreja podemos encontrar o Panteão Real da Casa de Bragança e o Panteão dos Patriarcas de Lisboa. Desde outubro de 1998, no antigo mosteiro, foi instalada definitivamente a sede do Patriarcado de Lisboa. 

Mas quem é São Vicente e qual a origem da sua importância para a memória dos lisboetas?
 
São Vicente foi um mártir cristão que morreu no século IV d.C., em Valência, quando o imperador romano realizou uma perseguição aos cristãos da Hispânia. O seu dia celebra-se a 22 de janeiro. Sendo condenado à morte por ser cristão e pregar a palavra de Cristo nessa província de Roma, foi declarado mártir, tornado santo, tanto pela sua bondade como pelos milagres que diziam ter feito. No século VIII, temendo a invasão muçulmana e a profanação do seu corpo, os cristãos levaram as suas relíquias por mar até ao Algarve, depositando-as no Promontório Sacro, em Sagres, onde construíram um santuário.  
Reza a lenda que D. Afonso Henriques prometeu que, caso conquistasse a cidade de Lisboa aos mouros, iria buscar as relíquias do santo mártir. Certo é que, um mês após esta conquista, em novembro de 1147, foi colocada no local onde as tropas de D. Afonso Henriques acamparam, a primeira pedra da igreja dedicada à Virgem Maria e a São Vicente que, como ficava fora das muralhas, ficou conhecida pelo nome de São Vicente de Fora.
 
Foi, assim, há 850 anos que as relíquias de são Vicente chegaram a Lisboa e que São Vicente se tornou santo padroeiro da cidade. A lenda conta ainda que na viagem o barco que transportava as relíquias do santo terá sido acompanhado por dois corvos, um na popa e outro na proa. Os marinheiros, admirados, pensaram logo que os corvos estariam a tomar conta do santo impedindo que alguma coisa de mal lhe acontecesse. Quando as relíquias chegaram, a 15 de setembro de 1173, foram depositadas na igreja de Santa Justa, mas logo no dia seguinte foram levadas para a capela-mor da Sé de Lisboa, e aí ainda se encontram, numa capela dedicada a este santo.
 
No dia 22 de janeiro de 2024, o Patriarcado de Lisboa cedeu parte das relíquias à diocese do Algarve para serem colocadas na Catedral de Faro.
O barco com os dois corvos começou a fazer parte da iconografia de Lisboa no reinado de D. Afonso III, na representação de um selo de lacre (SANTANA e SUCENA, 1994) e ficou para sempre associado ao símbolo desta cidade.
 
Ana Brites, Filipa Ferreira e Vitória Pinheiro
Fevereiro 2024
Serviço Educativo do Arquivo Municipal de Lisboa


1 Consultar Base de dados


Bibliografia e webgrafia

Dicionário da história de Lisboa, direção de Francisco Santana e Eduardo Sucena, Carlos Quintas & associados – Consultores LDA, 1994, pág. 453
[consult. 2024-01-24 14:17:02]. Disponível em https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/X-arqWEB/Result.aspx?id=43984&type=Autoridade
[consult. 2023-09-07 16:17:02]. Disponível em https://www.snpcultura.org/sao_vicente.html
[consult. 2023-11-07 15:17:02]. Disponível em  https://www.lisboa.pt/fileadmin/municipio/camara/simbolos/A_Bandeira_Municipal_de_Lisboa_introducao_a_vexilologia_autarquica_olisiponense.pdf
[consult. 2024-01-24 15:17:02]. Disponível em https://agencia.ecclesia.pt/portal/lisboa-sao-vicente-continua-hoje-a-ser-testemunho-e-apelo-a-amar-ate-ao-fim-no-seguimento-de-cristo-d-manuel-quintas/