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Detalhe

As instalações da Feira das Indústrias Portuguesas

Projeto da autoria de Keil do Amaral e Alberto Cruz

Feira das Indústrias Portuguesas, Lisboa, 1952

registo no catálogo

A AIP - Associação Industrial Portuguesa (atual AIP - Associação Industrial Portuguesa/Câmara de Comércio e Indústria) foi fundada a 28 de janeiro de 1837, em Lisboa, na sequência da aprovação dos respetivos estatutos pela Secretaria de Estados dos Negócios do Reino, afirmando-se como um dos primeiros exemplos de associativismo empresarial em Portugal. Entre os seus primeiros estatutos, um dos artigos determinava a obrigação de "levar a efeito uma exposição mundial da indústria”, além "de várias feiras em várias partes do Reino”.
A denominação inicial será recuperada em 1886, depois de entre 1860 e 1886 ter sido alterada para Associação Promotora da Indústria Têxtil (APIF).

Após algumas pequenas exposições industriais promovidas em 1861, 1863 e 1865, destaca-se, em 1887, a primeira Exposição Nacional das Indústrias Fabris, que decorreu em Lisboa, no espaço onde atualmente se encontram a praça do Marquês de Pombal e a avenida da Liberdade, que reuniu mais de 1200 expositores. No ano seguinte, a Associação Industrial Portuguesa promoveu a Exposição Industrial Portuguesa com uma Secção Agrícola, também realizada na avenida da Liberdade, que contou aproximadamente com o mesmo número de expositores da sua antecessora. Em 1889, a Associação Industrial Portuguesa foi responsável pela organização da representação de Portugal na Exposição Universal de Paris, comemorativa da Revolução Francesa.

No século XX, na prossecução dos seus primeiros estatutos, destacam-se, entre outras, as seguintes iniciativas organizadas pela Associação Industrial Portuguesa: 1928 – Congresso das Associações Comerciais e Industriais de Portugal; em Lisboa; 1929 – Feira de Amostras da Indústria Nacional, no Estoril; 1930 – Feira de Amostras de Produtos Portugueses, no Rio de Janeiro, no Brasil; 1932-1933 – Grande Exposição Industrial Portuguesa, no parque Eduardo VII; 1949 – 1.º ciclo da FIP – Feira das Indústrias Portuguesas, em colaboração com a Associação Industrial Portuense (que mais tarde será conhecida por Associação Empresarial de Portugal), na praça do Império, em Belém; a que sucederá, no ano seguinte, no mesmo local, o 2.º ciclo da FIP – Feira das Indústrias Portuguesas; 1952 – Exposição Industrial de Goa; 1955 – Feira das Indústrias de Luanda, em Angola; 1956 – Feira das Indústrias de Lourenço Marques, em Moçambique.

Estas iniciativas evidenciaram a necessidade, e urgência, da Associação Industrial Portuguesa dotar-se de instalações próprias, o que se verifica a 26 de maio de 1957, com a inauguração das instalações da Feira das Indústrias Portuguesas, permitindo-lhe, doravante, desenvolver a sua atividade de forma regular. O pavilhão e as obras anexas, projetados pelos arquitetos Francisco Keil do Amaral e Alberto Cruz, com a direção e planeamento técnico do engenheiro Justino Cruz, estendia-se desde a praça das Indústrias até à Cordoaria, sendo delimitada pela avenida da Índia e a rua da Junqueira, com uma área de cerca de 35.000 m2, atribuída pela Câmara Municipal de Lisboa. Acontecimento de importância económica estratégica para o país, a cerimónia de inauguração contou com a presença do presidente da República General Craveiro Lopes, e discursos de Francisco Cortez Pinto, presidente da Associação Industrial Portuguesa, e de Marcelo Caetano, ministro da Presidência.

As instalações da Feira das Indústrias Portuguesas, cuja construção se desenvolveu entre 1952 e 1957, são definidas por Ana Tostões como "obra exemplar na recriação e invenção, adaptou princípios funcionalistas à realidade tecnológica e aos materiais disponíveis no país, com empirismo, numa atitude clara de adequação da forma à realidade do programa e do funcionamento.”1 , que este Documento do Mês, um plano de conjunto assinado pelos arquitetos Keil do Amaral e Alberto Cruz, com escala de 1:100 e 865x435 de dimensão, sem data, evidencia2.


A mesma autora destaca a singularidade desta obra no contexto da arquitetura portuguesa, considerando a tecnologia utilizada e o seu programa, que permitiu cobrir um vão de 40 metros com a maior economia. Para tal, "os arcos de betão armado que constituem o corpo principal são assentes no solo travado por madres de betão pré-esforçado e cobertos por chapa ondulada3.

À primeira fase de construção, sucede-se uma outra com início em 1960, finalizada em 1964, também sob o traço de Keil do Amaral e Alberto Cruz, que Ana Tostões descreve da seguinte forma:

"Apenso ao grande plano da nave de exposições, um fino volume de horizontalidade acentuada suspenso em pilotis marca e protege a entrada deste novo corpo. (…) corresponde ao corpo perpendicular e ligado por passagem superior ao grande edifício. Retoma a linguagem do Movimento Moderno que é enfatizada escultoricamente com o pilar em V que suporta o estreito corpo em balanço.”4

O edifício da Feira das Indústrias Portuguesas, mais tarde classificado como Património Arquitetónico de Lisboa, que se destaca pela ausência de colunas, era constituído por duas grandes naves de exposição, pelas respetivas galerias e um espaço ao ar livre destinado à exposição de peças e máquinas de grande envergadura. Existiam, também, dois auditórios para acolher iniciativas complementares às feiras e exposições.

A segunda fase de construção da Feira das Indústrias Portuguesas compreendeu, ainda, um projeto desenvolvido no começo dos anos 1960, que tinha como objetivo aumentar a área expositiva, através da ampliação para norte do conjunto que definia a praça, mas que não chegou realizado.

Regressando a 26 de maio de 1957, a inauguração do edifício principal (atual Pavilhão do Rio, com uma área de 3.800 m2) da Feira das Indústrias Portuguesas deu-se com o II Congresso da Indústria Portuguesa e o II Congresso dos Economistas Portugueses, realizados em simultâneo, nos quais foi aprovado a importância da economia portuguesa se internacionalizar. Para tal, entre 9 e 23 de junho de 1960, realiza-se a primeira Feira Internacional de Lisboa (FIL), promovida pela Associação Industrial Portuguesa, que compreendia todas as atividades económicas, situação que se mantém até 1967, ano em que surgem os eventos temáticos. Ainda em 1960, com a finalidade de alcançar a almejada internacionalização, a Feira Internacional de Lisboa, na qualidade de organizadora de feiras, foi admitida como membro da UFI - Union des Foires Internationales.

Com o intuito de poder acolher exposições temáticas e ampliar a capacidade expositiva da Feira Internacional de Lisboa, em 1984 e 1985 foram construídos os atuais pavilhões 4 e 5. No mesmo sentido, em 1989 ficou concluído o Pavilhão Polivalente, sucessivamente designado Complexo das Feiras, Centro de Congressos da FIL e presentemente Centro de Congressos de Lisboa, composto por 4 auditórios e 5 salas de reunião.
No seu conjunto, estas infraestruturas permitiram à Feira Internacional de Lisboa assumir um papel chave e precursor em Portugal, na programação e realização de eventos internacionais, recebendo, ao longo da sua história, milhões de visitantes e expositores de todo o Mundo.

Desde 1999, coincidindo com o final da Expo’98, que a Feira Internacional de Lisboa se encontra no Parque das Nações, afirmando, ainda mais, o seu papel determinante na organização e promoção de eventos em Portugal. Por sua vez, com a saída da Feira Internacional de Lisboa para o Parque das Nações, o antigo edifício da Junqueira, conhecido por Centro de Congressos de Lisboa, foi remodelado e ampliado, com mais 3 pavilhões, compreendendo uma área total de 10.000 m2, constituída por 5 pavilhões, 8 auditórios, 7 foyers, 34 salas de reuniões, um restaurante e dois parques de estacionamento, que acolhe congressos, feiras, exposições e outros eventos.

Paulo Jorge dos Mártires Batista
Outubro de 2021
Arquivo Municipal de Lisboa


1 TOSTÕES, Ana - Feira das Indústrias Portuguesas. 1952-1957. Av. Da Índia/Rua da Junqueira. In AMARAL, Francisco Pires Keil do; MOITA, Irisalva; TOSTÕES, Ana - Keil do Amaral: o arquiteto e o humanista. Lisboa: Câmara Municipal, 1999. p. 252.

2 Este documento faz parte do Arquivo particular do arquiteto Keil do Amaral (1910-1975), à guarda do Arquivo Municipal de Lisboa desde 2001, disponível para consulta online. Mais informação sobre a vida e obra deste arquiteto nesta ligação

3 TOSTÕES, Ana - Ibidem, p. 252-253

4 IDEM - Feira das Indústrias Portuguesas (2.ª Fase). 1960-1964. In AMARAL, Francisco Pires Keil do; MOITA, Irisalva; TOSTÕES, Ana - Keil do Amaral: o arquiteto e o humanista. Lisboa: Câmara Municipal, 1999. p. 255.

 


Bibliogragia e webgrafia

TOSTÕES, Ana - Feira das Indústrias Portuguesas e Feira das Indústrias de Lisboa. In AMARAL, Francisco Pires Keil do; MOITA, Irisalva; TOSTÕES, Ana – Keil do Amaral: o arquiteto e o humanista. Lisboa: Câmara Municipal, 1999. p. 251-257.

CENTRO DE CONGRESSOS DE LISBOA – Uma história de sucesso. [Em linha]. Lisboa. [Consult. 30 ago. 2021]. Disponível na Internet: Lisboa:<URL: https://lisbonvenues.pt/centro-de-congressos-de-lisboa /historia/>.

FIL – Uma história de sucesso. [Em linha]. Lisboa. [Consult. 30 ago. 2021]. Disponível na Internet: <URL: https://www.fil.pt/uma-historia-de-sucesso/>.

RESTOS DE COLEÇÃO – Feira das Indústrias Portuguesas [Em linha]. Lisboa. [Consult. 30 ago. 2021]. Disponível na Internet:<URL: https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/10/feira-das-industrias-portuguesas.html>.

RTP ARQUIVOS – Inauguração do Edifício da Feira das Indústrias Portuguesas [Em linha]. Lisboa. [Consult. 30 ago. 2021]. Disponível na Internet:<URL:https://arquivos.rtp.pt/conteudos/inauguracao-do-edificio-da-feira-das-industrias-portuguesas/>.