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Detalhe

Celebrações a propósito do reconhecimento da independência do Brasil

Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, assinado em 13 de novembro de 1825

Registo do Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino determinando que, nos dias 15 e 16 de novembro de 1825, em demonstração de júbilo pela conclusão do Tratado de Aliança e Amizade com o imperador do Brasil, houvesse grande gala na Corte, luminárias gerais e férias nos tribunais e que no dia 17 do mesmo mês se celebrasse o Te Deum Laudamos na igreja Patriarcal, 1825
Registo do Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino determinando que, nos dias 15 e 16 de novembro de 1825, em demonstração de júbilo pela conclusão do Tratado de Aliança e Amizade com o imperador do Brasil, houvesse grande gala na Corte, luminárias gerais e férias nos tribunais e que no dia 17 do mesmo mês se celebrasse o Te Deum Laudamos na igreja Patriarcal, 1825

registo no catálogo

No dia 29 de agosto de 1825 é assinado, no Rio de Janeiro, o Tratado de Paz, Amizade e Aliança, entre o rei de Portugal, D. João VI, e o imperador do Brasil, D. Pedro I, que, formalmente, coloca um ponto final à Guerra da Independência e reconhece o Brasil como nação independente.1 O tratado seria ratificado no Brasil na mesma ocasião e, em Portugal, em 15 de novembro do mesmo ano.

O Governo Português levou cerca de três anos a reconhecer a independência daquela que tinha sido a sua maior colónia. Após o simbólico Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, D. Pedro I do Brasil, foi forçado a tomar medidas que pudessem garantir a autonomia da nação brasileira: enfrentou os levantamentos militares em províncias que se mantinham fiéis a Portugal e, paralelamente, promoveu o reconhecimento internacional da independência do Brasil. A Inglaterra, a quem interessava esse reconhecimento, surgiu como intermediária. Depois de três anos de negociações é assinado o Tratado supra referido, também conhecido como tratado do Rio de Janeiro.

O documento que neste mês escrutinamos, é o registo de um aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, assinado por José Joaquim de Almeida e Araújo Correa de Lacerda, em 13 de novembro de 1825, remetido à Junta da Fazenda da Cidade, a determinar que nos dias 15 e 16 de novembro de 1825, em demonstração de júbilo pela conclusão do Tratado de Aliança e Amizade com o imperador do Brasil, houvesse grande gala na Corte, luminárias gerais e férias nos tribunais e que, no dia 17 do mesmo mês, se celebrasse o Te Deum Laudamos na igreja Patriarcal.

Este documento, em conjunto com outro do mesmo Livro de registo de decretos e avisos dirigidos à Contadoria, 1821-1827, o registo de um aviso a informar da cerimónia do beija-mão que se realizaria no palácio de Mafra3, dá-nos conta das celebrações que tiveram palco em Lisboa a propósito da assinatura do Tratado acima referido. 
 

As cerimónias seriam realizadas, na cidade de Lisboa, a expensas da Câmara como ficou demonstrado num outro documento onde se podem constatar as despesas efetuadas pelo Senado da Câmara de Lisboa com as luminárias e com o bando, nos dias 14, 15, 16 e 17 de novembro de 1825, por ocasião de D. João VI ter assumido o título de Imperador do Brasil, em observância do Aviso de 13 de Novembro de 1825 4. Note-se que neste documento é salientada a assinatura do Tratado como a ocasião em que D. João VI assume o título de Imperador do Brasil, tal como o seu filho D. Pedro. Esta foi uma exigência do lado de Portugal talvez para tentar amenizar o choque que foi a perda da sua maior colónia.

Duzentos anos depois da independência do Brasil, as celebrações aconteceram um pouco por todo o lado. No Brasil, o ponto mais alto das comemorações, ou pelo menos o mais mediático, foi, sem dúvida, a exposição do coração de D. Pedro I do Brasil, D. Pedro IV de Portugal, que foi trasladado do Porto para Brasília, onde permaneceu em exposição durante alguns dias até que regressou à igreja de Nossa Senhora da Lapa, na cidade invicta.

Em Portugal há, atualmente, uma visão estratégica em relação ao Brasil.5 Os brasileiros representam a maior comunidade estrangeira no nosso país. Contam-se mais de 250 mil cidadãos, registados oficialmente, mas podem chegar aos 400 mil se contabilizarmos os não oficiais bem como aqueles que têm dupla nacionalidade.

Passados 200 anos, Portugal e Brasil, e o mundo em geral, enfrentam novos desafios: a revolução digital, a pandemia, a poluição, as alterações climáticas, os conflitos armados, a pobreza e as ameaças à democracia. Hoje como ontem, os desafios são grandes e constantes. Espera-se que os dois países irmãos consigam superá-los e promover-se como nações política, social e economicamente, sólidas e justas.

Encontre este e outros documentos relacionados com o tema na base de dados do Arquivo .
 

Maria Clara Anacleto
Novembro 2022
Arquivo Municipal de Lisboa - Histórico


1Arquivo Nacional Torre do Tombo, Tratados 1652/1878, Tratado de Paz e Amizade, em onze artigos, entre D. João VI, rei de Portugal, e D. Pedro I, imperador do Brasil, 1825-08-29. 

2 Arquivo Municipal de Lisboa, Chancelaria Régia, Livro de registo de decretos e avisos dirigidos à Contadoria, 1821-1827, doc.132.

3 Idem, doc.134.

4 Arquivo Municipal de Lisboa, Chancelaria da Cidade, Coleção de editais da Câmara Municipal de Lisboa, 1823-1840, doc. 124. Ver também Brochado, Adelaide - Revolução Liberal: relação circunstanciada de testemunhos evocativos (1820-1823). Cadernos do Arquivo Municipal. 2ª Série, nº 15 (janeiro-junho 2021), p. 143-173. 

SILVA, Joaquim Ramos – As relações económicas luso-brasileiras desde a década de noventa: uma visão estratégica. In Nação e Defesa, nº 138 (2014) p.90-116.