Detalhe
Estádio José Alvalade
O Sporting Clube de Portugal deve a sua origem à vontade de José Alvalade, que a 13 de abril de 1906 afirmou, "Vou pedir dinheiro ao meu avô e ele me dará dinheiro para fundar um outro clube”, no momento em que, juntamente com os irmãos Francisco e José Maria Gavazzo e cerca de vinte adeptos, abandonou a Assembleia Geral do Campo Grande Football Club. O facto de não concordarem com a aposta deste clube numa componente mais social (festas, bailes e piqueniques), em detrimento da desportiva, esteve na origem desta saída. Para além de tutelar a criação do novo clube, o avô de José Alvalade, o visconde de Alvalade, Dr. Alfredo Augusto Neves Holtreman, cedeu os terrenos para o campo de jogos na sua quinta, no sítio das Mouras, no n.º 73 da então alameda do Lumiar, atual alameda das Linhas das Torres.
A 8 de maio de 1906 reúne-se a primeira Assembleia Geral, em que o visconde de Alvalade é eleito Presidente da Direção, que tem como Vice-Presidente o seu neto, José Alvalade, que aí proferiu a célebre promessa: "Queremos que o Sporting seja um grande, tão grande como os maiores da Europa”. Depois de inicialmente ter sido adotado o nome Campo Grande Sporting Club, será a 1 de julho de 1906 que a Assembleia Geral aprovou a alteração definitiva para Sporting Clube de Portugal, oficialmente a data da sua fundação. Muito mais do que um clube de futebol, desde a sua origem o forte ecletismo que ainda hoje o define ficou marcado com o nascimento de outras quatro modalidades: ténis, corridas e saltos (atletismo), exercícios físicos (ginástica) e luta de tração à corda, à época bastante populares. No ano seguinte, o críquete e o hóquei em campo juntam-se a esta lista e, em 1911, o ciclismo, nos quais os dirigentes também eram atletas, praticando diferentes modalidades.
O primeiro jogo oficial de futebol do Sporting realizou-se a 3 de fevereiro de 1907, em Alcântara, tendo perdido por 5-1 contra o Cruz Negra. Neste jogo, D. João de Vila Franca marcou o único golo pelo Sporting e o primeiro da história deste clube. Já o primeiro desafio a opor o Sporting ao Sport Lisboa (que só viria a designar-se como Sport Lisboa e Benfica no final do ano seguinte), disputado a 1 de dezembro de 1907, no campo da Quinta Nova, em Sete Rios, terminou com uma vitória sobre o grande rival do desporto português, por 2-1, com golos de Cândido Rosa Rodrigues e de Cosme Damião, na própria baliza.
Ainda em 1907, D. Fernando de Castelo Branco (Pombeiro) permitiu que o leão rampante do seu brasão fosse utilizado no emblema do Sporting, como símbolo deste. Deveria ser de cor "prata armado em preto, em campo verde, correspondendo às límpidas, firmes e esperançadas intenções dos seus fundadores", recorda Júlio de Araújo, mais tarde Presidente do Sporting. O verde foi sugerido pelo visconde de Alvalade, simbolizando a esperança no novo clube.
Quanto ao equipamento, as primeiras camisolas do Sport Clube de Belas (fundado em 1902), precursor do Sporting Clube de Portugal, eram brancas, sobre calções azuis. O branco passou para o Campo Grande Football Club (criado em 1904) e finalmente para o Sporting Clube de Portugal.
A partir de 25 de outubro de 1908, por iniciativa do fundador Eduardo Quintela de Mendonça, as camisolas passaram a apresentar o verde e branco em duas secções verticais, separadas ao centro do peito e das costas, sendo o emblema leonino colocado na faixa verde do lado esquerdo. Estas camisolas, que tinham as iniciais do Sporting bordadas a prata sobre o bolso preto e leão, doravante símbolo do clube, foram feitas em Inglaterra. Atualmente esta camisola bipartida verde e branca é conhecida por equipamento Stromp, em homenagem a um dos seus mais relevantes desportistas e fundadores.
Por sua vez a atual camisola de riscas horizontais verdes e brancas, esta deve-se à ação de José Salazar Carreira, médico de profissão e eclético atleta do Sporting que, no final de 1926, ao assistir a um jogo de râguebi em que participou o Racing de Paris, ficou bastante impressionado com a camisola deste clube, trazendo uma para Lisboa, posteriormente adaptada às cores leoninas. Será a 6 de novembro de 1927, num jogo com o Casa Pia, no âmbito da taça António Pinho, que pela primeira vez estas camisolas listadas foram usadas pelos jogadores de futebol do Sporting.
O primeiro grande título de futebol conquistado pelo Sporting surgiu em 1912, com a vitória no Campeonato de Lisboa de Futebol, seguindo-se, em 1922-1923, o Campeonato de Portugal de Futebol, competição que atribuía o título nacional, à época disputado no sistema de eliminatórias, com uma vitória por 3-0 frente à Académica de Coimbra.
Em 1917 o Sporting mudou de instalações. Pese a construção do stadium de Lisboa, em 1914, mais uma iniciativa de José Alvalade, divergências entre este e a Direção eleita em 1916 levaram ao arrendamento do recinto que passou a ser conhecido como Campo Grande 412, onde jogava o Lisboa Futebol Clube, que entretanto se extinguira. Por esta razão, o Sporting vai custear importantes melhoramentos nesta infraestrutura, que será a sua casa durante 30 anos.
A 10 de junho de 1956, o Sporting inaugurou o estádio José Alvalade, em homenagem ao nome do fundador, no local do antigo stadium, mais tarde estádio do Lumiar, cujo fecho, através da construção da denominada Bancada Nova, se verificou em 1983, sob a presidência de João Rocha. O novo estádio José Alvalade, com 56.076 lugares, todos sentados e cobertos, e o complexo Alvalade XXI, que inicialmente também incluía o Centro Comercial Alvaláxia, o Multidesportivo, o Mundo Sporting (o novo museu do Clube), a Loja Verde, o Holmes Place, a clínica CUF e o edifício Visconde de Alvalade, onde se encontra a sua sede, foram inaugurados a 6 de agosto de 2003, num jogo frente ao poderoso Manchester United, que o Sporting venceu por 3-1. Se este foi o primeiro jogo do Sporting no novo estádio, foi também o da despedida do jogador Cristiano Ronaldo com a camisola verde e branca, contratado, precisamente, pelo clube inglês convidado para essa noite de gala.
A construção deste equipamento desportivo, instalado entre a avenida Padre Cruz, a 2ª Circular e a alameda das Linhas Torres, deveu-se à necessidade de substituir o anterior estádio José Alvalade, que estava bastante degradado, não permitindo a sua recuperação. Pretendia-se que o novo estádio a construir não fosse somente um recinto de futebol, mas que integrasse uma infraestrutura comercial mais vasta, de que o desporto-rei seria apenas uma entre inúmeras ofertas. Importa salientar que tudo isto foi feito muito antes da decisão de atribuir a Portugal a organização do Euro 2004. De facto, o projeto do novo estádio do Sporting foi apresentado pela primeira vez na Assembleia Geral de 12 de maio de 1999, tendo a construção do Alvalade XXI iniciado a 16 de janeiro de 2001, como o seu processo de obra evidencia, através do primeiro processo que integra, datado de 2000, cujo assunto é "Obra de construção”, com as respetivas especialidades.
O processo de obra particular do complexo Alvalade XXI, de que o novo estádio José Alvalade faz parte, tem o número 65377, sendo constituído por 185 volumes, o que faz dele um dos maiores que se encontra no Arquivo Municipal de Lisboa. Por conseguinte, quando Portugal foi escolhido para acolher o Euro 2004, já as obras do novo estádio do Sporting estavam substancialmente avançadas, o que foi possível através da utilização de capitais próprios do clube, empréstimos bancários e acordos com o Estado Português, por via da organização do Euro, e a Câmara Municipal de Lisboa, que assegurou a renovação das vias de acesso ao Alvalade XXI. Ainda assim, se o valor estimado para a construção do novo estádio, a 27 de abril de 2000, foi de cerca de 106 milhões de euros, o custo total cifrou-se nos 184 milhões de euros.
Desenhado pelo arquiteto Tomás Taveira, e fortemente influenciado pelo conceito integrado do ArenA Amesterdão - posteriormente rebatizado Johan Cruijff ArenA, em homenagem ao lendário futebolista da Holanda, a casa do Ajax, o mais popular clube deste país, que também recebe os jogos internacionais da seleção, o novo estádio do Sporting destaca-se pela arquitetura arrojada e pormenores inspirados nos Descobrimentos Portugueses. Referimo-nos aos mastros de sustentação, que remetem para os mastros das naus lusitanas, aos tirantes, evocativos das velas, e à cobertura, que se assemelha a uma onda, como se observa na imagem apresentada.
Se os aspetos anteriores foram consensuais, pelo contrário, a decoração do estádio gerou bastante polémica, não só pelo material escolhido, o azulejo, até aí nunca utilizado na construção de um equipamento desportivo, mas também pelos respetivos padrões, com símbolos do Sporting, e cores escolhidas, em que predominam o verde e o amarelo. Da autoria de Ricardo Taveira, procurou-se que estes azulejos fossem diferenciados entre si, resultando num efeito dinâmico, mas foi sobretudo gerador de controvérsia, que o tempo não ajudou a esmorecer. No mesmo sentido, as cadeiras, nas mais variadas e misturadas cores, com a finalidade de dar a ilusão que as bancadas estão sempre cheias, dividem os adeptos do clube, muitos dos quais defendem que estas deveriam ser verdes e brancas, ou apenas verdes, em linha com as cores do Sporting. Estas questões de natureza mais estética não impediram que o novo estádio José Alvalade fosse o primeiro em Portugal a receber a classificação "5 estrelas” da UEFA, em maio de 2005, a distinção máxima atribuída pelo organismo responsável pelo futebol na Europa com o objetivo de premiar a excelência das infraestruturas desportivas.
Ao longo da sua história, o Sporting tornou-se num clube desportivo, cujo ecletismo, historial e forte base de adeptos fazem dele, a par do Futebol Clube do Porto e do Sport Lisboa e Benfica, um dos maiores clubes de Portugal e um dos mais prestigiados a nível mundial. Nesse sentido, e limitando-nos ao futebol, o Sporting conquistou 18 Campeonatos Nacionais/I Liga, 17 Taças de Portugal, 8 Supertaças Cândido de Oliveira, 2 Taça da Liga e 4 Campeonatos de Portugal. Em termos internacionais, o Sporting venceu em 1963-1964 a Taça das Taças, o único clube português a consegui-lo, tendo sido finalista vencido da Taça UEFA, em 2004-2005.
O lema do Sporting Clube de Portugal, Esforço, Dedicação, Devoção e Glória, faz justiça a um passado glorioso, ao nível de quase todos os desportos, refletido nos títulos e condecorações com que foi agraciado pelo Governo e outras entidades públicas, nomeadamente: Oficial da Ordem de Benemerência (1936); Comendador da Ordem Militar de Cristo (1940); Medalha do Instituto de Socorros a Náufragos (1950); Medalha Cruz Vermelha de Benemerência (1951); Medalha de Mérito Desportivo (1956); Instituição de Utilidade Pública Desportiva (1960); Medalha Bons Serviços Federação Portuguesa Ginástica (1963); Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa (1964); Medalha Bons Serviços Federação Portuguesa Patinagem (1977); Membro Honorário da Ordem do Infante Dom Henrique (1981); Sócio de Mérito da Federação Portuguesa Andebol (1982); Sócio de Mérito da Federação Portuguesa Ginástica (1982); e Medalha de Honra de Mérito Desportivo (1986).
A consulta desta documentação é apenas presencial e mediante agendamento prévio. (Obra 65377; Volume 3, Processo 182/DMPGU/OB/2000 - Tomo 7; Pág. 160)
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Paulo Jorge dos Mártires Batista
Julho 2020
Arquivo Municipal de Lisboa | Geral e Histórico
Bibliografia
CORREIA, Fernando – Sporting: 100 figuras. Lisboa: QuidNovi, 2010.
Dicionário da Língua Portuguesa – Sporting Clube de Portugal. Porto: Porto Editora, 2010
LISBOA. CÂMARA MUNICIPAL. Direção Municipal de Cultura. Arquivo Fotográfico – Uma cidade de futebol. Lisboa: Arquivo Fotográfico Municipal; Assírio e Alvim, 2004.
PINTO, Rodrigo [et al.] - Sporting Clube de Portugal: a história, os triunfos e as imagens de todos os tempos: livro de ouro. Lisboa: Diário de Notícias, 2000.
SPORTING CLUBE DE PORTUGAL [Em linha]. Lisboa. [Consult. 22 jun. 2020]. Disponível na Internet: <URL: www.sporting.pt/>.
WIKISPORTING [Em linha]. Lisboa. [Consult. 22 jun. 2020]. Disponível na Internet: <URL: www.wikisporting.com.