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Detalhe

Lisboa, Anos 90

Imagens de Arquivo

Parque da Bela Vista, 1998

registo no catálogo

Em 2024, lembramos o projeto fotográfico “Lisboa, Anos 90”, vinte e cinco anos depois de ter sido apresentado em exposição no Arquivo Municipal de Lisboa| Fotográfico e no Convento do Salvador (Alfama) de 14 de dezembro de 1999 a 13 de fevereiro de 20001, através de um conjunto de imagens de sete autores: António Pedro Ferreira (1957), Eurico Lino do Vale (1966), Luís Pavão (1954), Michel Waldmann (1950), Paula Figueiredo (1970), Paulo Catrica (1965) e Pedro Letria (1965).
O projeto foi desenvolvido a partir de uma encomenda, do Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico, aos referidos fotógrafos, para retratar a cidade de Lisboa.
As imagens representam o espaço público e os seus arredores nos últimos anos do milénio (em especial dos anos 1998 e 1999), dando a ver locais residenciais, de lazer, da periferia esquecida, bem como dos habitantes, ilustrando o lado humano da cidade. 

O documento escolhido, do parque da Bela Vista, representa o conjunto de imagens a cores, da autoria de Pedro Letria, e destaca os parques da cidade, extensas áreas arborizadas e longas vias pedestres, circuitos de manutenção e parques infantis, concedidos aos habitantes e visitantes para garantir uma vida de qualidade dentro de Lisboa e apresenta a relação entre o espaço verde e o espaço urbano numa conjugação imperativa para a atualidade, para além de convidar a uma fruição da imagem de paisagem, apaziguadora e relacional. O fotógrafo apresenta um conjunto de imagens de locais quase vazios, ainda em construção ou esquecidos, da zona ribeirinha e de zonas residenciais.

No projeto, a fotógrafa Paula Figueiredo optou também por dedicar o seu trabalho aos parques da cidade com imagens a cores (diapositivos cromogéneos), as quais revelam uma alienação dos espaços verdes na cidade por quem habitava ou nela passava para trabalhar, apesar de configurar o espaço urbano e de estarem destinados à fruição gratuita. Poucas foram as pessoas encontradas nestes espaços e as imagens testemunham bem a pouca frequência, sendo o tema reavivado na atualidade pelo crescente interesse pela Natureza e o ambiente. 
Os parques são agora espaços imprescindíveis na cidade e conseguimos ver muitos frequentadores, em especial crianças e seus familiares, jovens, turistas e desportistas, que usufruem de práticas de lazer e manutenção física. Nas últimas décadas, os espaços verdes, outrora maioritariamente locais de passeio das famílias, conquistaram igualmente os eventos culturais, que fixaram nestas vastas áreas, o palco ideal para juntar aglomerados de pessoas, interessadas nas artes do espetáculo2.

Dos outros autores, os contributos são diferenciados: António Pedro Ferreira, optou por fotografias dos arredores da cidade e apresenta um conjunto de zonas da interação dos habitantes em bairros sociais, locais de passagem e edifícios; Eurico Lino do Vale  aborda o retrato individual de habitantes de Alfama; Luís Pavão fotografa a zona do Parque das Nações, ainda em construção; Michel Waldmann, as vias de acesso da cidade a par das zonas habitacionais; e Paulo Catrica a periferia de Lisboa, com prédios de grande escala. Todos estes autores no registo a preto e branco. 
Esta representação de Lisboa, numa perspetiva de um passado recente, parece muito distante perante o presente vivido e tal como Ana Gandum referiu e Catarina Botelho mencionou, em 2020, sobre esta coleção de fotografias: «A cidade é hoje um “espaço neo-liberalizado”, higienizado, incentivado por políticas públicas de atração de capitais à escala global, “um corpo em transformação a alta velocidade”, de crescente patrimonialização, comercialização e turistificação de diferentes espaços, hábitos e formas de vida, “onde, quando se tenta abarcar, analisar ou fazer frente a alguma coisa, ela já se alterou”, referia precisamente Catarina Botelho. E as ruínas do seu passado mais ou menos recente, os seus fragmentos, são aqui as imagens, a fotografia.»  

O município de Lisboa promovera, desde os fins do século XIX, outros levantamentos fotográficos da cidade como o Fundo Antigo, dos autores (desenhadores municipais) José Cândido d’Assumpção e Souza (1856-1923) e Arthur Júlio Machado (1867-1947), entre 1898 e 1908. Na época, a intenção foi de mapear as ruas e edifícios para uma futura modernização da cidade, ou seja, a construção de edifícios novos e o saneamento da cidade, de modo a disponibilizar condições de salubridade, a promoção do comércio modernizado e a abertura de vias rodoviárias, que permitissem uma ligação ágil entre as várias zonas da cidade. 
Mais tarde, o Arquivo Municipal congregou conjuntos fotográficos dispersos de distintos fotógrafos, das décadas de 1940 a 1960, já representados na Instituição, denominando de Fundo Moderno, para assim se distinguir do Fundo Antigo, com imagens da construção de novos bairros, de modo a dar resposta às necessidades de habitação, em zonas outrora de quintas agrícolas, e de novas estradas, que expandiram e promoveram a vivência moderna da cidade.

No inicio do século XXI, o trabalho dos fotógrafos (funcionários da Câmara Municipal de Lisboa), continuou a ser desenvolvido, numa articulação de temas atuais, quer fossem focados no espaço urbano, como o registo fotográfico do Luís Pavão sobre a calçada portuguesa, quer fossem de práticas vivenciais na cidade, como as ciclovias, de Claúdia Damas ou ainda do impacto social da pandemia, com o projeto Lisboa Covid 19, da autoria de José Vicente, Luís Pavão, Miguel Pité e Pedro Lourenço, em 2020 e 2021.
Para além destes contributos, o Departamento de Património Cultural (CML), em articulação com a equipa do Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico, tem vindo a promover levantamentos fotográficos e videográficos da cidade, como o atual projeto sobre as freguesias de Lisboa com a intervenção de Fernando Carrilho, José Vicente, Luís Pavão, Miguel Pité, Pedro Lourenço e Pedro Vieira.
Desta forma, o Arquivo Municipal de Lisboa disponibiliza coleções de imagens atuais, representativas da evolução da cidade e dos modos de estar e viver o espaço urbano.

Paula Figueiredo
Maio de 2024
Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico


1 Da exposição ficou o livro Lisboa Anos 90 – Imagens de Arquivo. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1999.

2 O parque da Bela Vista (Marvila) já tem larga tradição no acolhimento do Rock in Rio Lisboa, que iniciou a sua exibição neste local a partir de 2004. Em 2024, será realizado no Parque Tejo. 
O Parque das Nações, com espaços verdes ajardinados, tornou-se numa nova freguesia de Lisboa, onde se localiza o Parque Tejo, ocupando parte do antigo Parque Urbano do Tejo e do Trancão, inaugurado em 1998 no âmbito da exposição mundial “Expo 98” e readaptado para as Jornadas Mundiais da Juventude em 2023, por ocasião da visita do Papa Francisco. Desta forma, é mais um local de fruição e lazer numa conjugação perfeita entre o espaço verde e o rio Tejo.
O parque Vale do Silêncio (Olivais) tem vindo a acolher concertos de música clássica, promovidos pela Fundação Calouste Gulbenkian, de acesso gratuito, de modo a promover o gosto por este género musical, desde 2019. 
O parque Eduardo VII é o espaço da Feira do Livro desde 1980 (à exceção de 1996).
Parque Vale do Silêncio, https://gulbenkian.pt/musica/locations/parque-vale-do-silencio/
FEIRA DO LIVRO DE LISBOA Uma história centenária https://www.uceditora.ucp.pt/pt/blog/feira-do-livro-de-lisboa.html

Reparar no olhar: Lisboa anos 90 conversa no Teatro do Bairro Alto com Catarina Botelho, David Guéniot e convidadas
https://www.buala.org/pt/cidade/reparar-no-olhar-lisboa-anos-90