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Natal
O Natal ou Dia de Natal é um feriado religioso cristão, comemorado todos os anos a 25 de dezembro pela Igreja Católica Romana, e a 7 de janeiro, pela Igreja Ortodoxa.
Originalmente destinada a celebrar o nascimento anual do Deus Sol no solstício de inverno, a festividade foi integrada pela Igreja Católica no ano de 354 d.C., pelo papa Libério, para desenvolver a conversão dos povos pagãos sob o domínio do Império Romano, passando, a partir dessa data, a festejar o nascimento de Jesus de Nazaré. Desta forma, o Natal transformou-se numa das principais datas comemoradas pelos cristãos de todo o mundo. Nas línguas latinas o vocábulo Natal deriva de Natividade, que significa o nascimento de Jesus.
Entre as muitas tradições de Natal, destacam-se a árvore de Natal, a troca de presentes e mensagens, a ceia de Natal, músicas de Natal, a decoração de casas, edifícios, estabelecimentos comerciais, ruas, pontes, árvores, etc. com elementos que representam o Natal, entre eles destacam-se as luzes caraterísticas dessa época. Outra tradição incontornável é o Pai Natal, figura mitológica bastante popular em muitos países, associado aos presentes, sobretudo pelas crianças.
Lisboa, uma cidade de tradições, regista na sua história uma peculiar tradição da época de Natal, já efémera: o Natal do sinaleiro.
O polícia sinaleiro, que inicialmente se apresentava apeado e depois num pedestal, foi instituído pelo comandante da Secção de Trânsito da PSP, em 1927, quando o trânsito, em vez de ser já definido por semáforos sincronizados, era comandado pelos "cabeças de giz”, como eram conhecidos esses polícias devido ao capacete característico. A farda compreendia luvas e cassetetes brancos, e uma braçadeira vermelha com um "T” inserido, que mais tarde passou a ser o distintivo das brigadas de trânsito. A esta paramenta, juntou-se pouco tempo depois os punhos, cinturão e talabarte brancos.
Os polícias sinaleiros, por via da função fundamental, e bastante árdua, na condução e descongestionamento do trânsito na capital, independentemente das condições climatéricas, eram bastante estimados pela população e verdadeira atração para os turistas e todos aqueles que iam à capital pela primeira vez. De tal forma, que em meados dos anos 30 o Automóvel Clube de Portugal lançou, com o patrocínio de algumas empresas, uma campanha nacional intitulada Natal do Sinaleiro, que nos anos 50 e 60 se tornou muito popular em todas as capitais de distrito e outras cidades do país, Madeira e Açores incluídos, com o apoio dos jornais O Século e o Diário de Notícias. Essa iniciativa tinha como objetivo incentivar os automobilistas a deixarem prendas junto dos polícias sinaleiros da sua preferência, pelo que, no caso de Lisboa, eram instalados postos de recolha das ofertas na avenida da Liberdade, Restauradores, Cais do Sodré e praça Luís de Camões. Desde porcos a cabritos e galinhas, fardos de bacalhau, garrafões e pipas de vinho, sacos de batatas, azeite e outros produtos alimentares, até importantes somas em dinheiro, roupas, móveis, eletrodomésticos e uma bicicleta com motor, as ofertas que os polícias sinaleiros recebiam eram bastante variadas, sendo provenientes não apenas dos automobilistas, mas também de inúmeros peões.
O Arquivo Municipal de Lisboa mostra uma imagem que retrata o Natal do sinaleiro, que corresponde a um negativo de gelatina e prata em vidro, com 9 x 12 cm, de 1930, atribuído a Álvaro Abranches Ferreira da Cunha, que nasceu em Lisboa, a 5 de março de 1901, filho de Eduardo Abranches Ferreira da Cunha, juiz do Tribunal da Relação, do Conselho de Sua Majestade e deputado da Nação, e de Palmira Aida Martins Neves. Fez o curso de Letras do liceu de Camões. O interesse pela fotografia, estimulado naquele liceu, afastou-o dos estudos. Aos 18 anos matriculou-se no 7º ano do liceu, mas em janeiro de 1920 transitou para o ensino doméstico. Casa em dezembro de 1921com Matilde Amélia Pinto. Entretanto, o casal vai viver para Moçambique com a mãe e o padrasto de Álvaro, onde nasce a sua, Maria Libânia, em 18 de fevereiro de 1924.
Durante a estadia em Moçambique Ferreira da Cunha dedica-se à fotografia para edição de postais. Regressa a Lisboa em meados de 1925, trabalha como repórter fotográfico em jornais desportivos e revistas, até que João Pereira da Rosa, diretor de O Século, o convida, em 1926, a integrar os quadros do jornal. Paralelamente, em 1928, inicia a colaboração com O Notícias Ilustrado, e em 1938 com O Século Ilustrado, ambos dirigidos por José Júlio Leitão de Barros. Este jornalista e realizador de cinema levou-o a colaborar, na área da fotografia, nos filmes Lisboa, crónica anedótica (1930), Maria do Mar (1930), a Severa (1931) e Camões - erros meus má fortuna amor ardente (1946). Fora do jornalismo participou em obras publicadas pelo Secretariado da Propaganda Nacional, nomeadamente nos álbuns Portugal 1934 e Portugal 1940 (catálogo da Exposição do Mundo Português). Em agosto de 1933, passou para os quadros do Diário de Notícias, assumindo as funções de chefe de secção de reportagem fotográfica. Aí permaneceu até à data da morte, 21 de julho de 1970. No respeitante à sua atividade sindical, foi admitido como sócio ordinário do Sindicato Nacional dos Jornalistas em novembro de 1935, com o número 29, tendo-se destacado pelo grande empenho na defesa da sua classe profissional. Pertenceu aos corpos gerentes do sindicato entre 1936 e 1939, durante dez anos desempenhou o cargo de secretário da Caixa de Reformas dos Jornalistas e foi presidente da comissão corporativa dos repórteres fotográficos. Em traços gerais, o trabalho de Ferreira da Cunha como repórter fotográfico incidiu sobre as seguintes temáticas: acontecimentos políticos e militares marcantes (o golpe militar de 28 de maio de 1926 e a revolta de 3 de fevereiro de 1927 no Porto); atos oficiais e de Estado (como a visita presidencial às colónias em 1939 e a inauguração do monumento ao Cristo Rei em 1959); eventos desportivos (a volta a Portugal em bicicleta e jogos de futebol); Lisboa nas suas múltiplas vertentes (a arquitetura, a vida quotidiana, o teatro de variedades e de revista, as profissões tradicionais, as festas populares, etc.). Em 1932, foi distinguido com o Prémio de Honra da Exposição Industrial Portuguesa, na categoria reportagem fotográfica.
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Paulo Jorge dos Mártires Batista
Outubro 2015
Arquivo Municipal de Lisboa | Geral e Histórico
Bibliografia
COSME, João. História da Polícia de Segurança Pública: Das origens à atualidade. Lisboa: Edições Sílabo, 2006.
LISBOAPHOTO, Lisboa, 2003 - Coleção Ferreira da Cunha. Lisboa: Câmara Municipal. Arquivo Fotográfico, 2003