Biografias dos autores
Manifestações de Liberdade
Biografias dos autores
Entre a confusão visual dos cartazes colados em séries, que cobrem vastas áreas de parede e que tapam pilares como se aglutinassem o espaço dando um contorno criativo aos meros cartazes alinhados; e a dispersão urbana de automóveis e pessoas, vemos fotografias de um pulsar revolucionário, numa desordem de elementos que se prestam ao relato de uma época de contestação e vontade de mudar, e que anunciam uma intervenção no espaço público como meio de comunicação.
Fotógrafo com atelier na travessa Gaspar Trigo, 2, 2º esq., em Lisboa. Colaborou com a revista Panorama, o jornal 'O Século' e com a Embaixada de Espanha.
Artista/poeta visual usou a sua máquina fotográfica de pequeno formato (126 mm e 35 mm) para retratar os ânimos da Revolução de 25 de Abril, repercutidos em vários momentos cronológicos, através de situações sociais de expressa efusividade, provando estar presente e muito próxima dos acontecimentos, e a par de vários artistas em manifestação com a população e em agitadas ações de rejubilo. Com um trabalho de reinterpretação posterior, as suas fotomontagens alinharam-se à capacidade conceptual e eternizaram as simples imagens captadas numa materialidade criativa.
Provas de época em papel de revelação baritado
Entre 1981 e 1999, foi professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da, Universidade Nova de Lisboa. A sua vasta obra inclui poesia, ficção, ensaio, tradução, performance, cinema e artes plásticas. Integrou o grupo da revista Poesia Experimental (1964-1966). Dirigiu as revistas Claro-Escuro (1988-1991) e Incidências (1997-1999). A atenção à dimensão plástica e gestual da escrita está patente quer em séries recolhidas em livro, quer nos desenhos e (des)colagens, bem como ainda nos filmes e ações poéticas que realizou. A sua investigação académica contribuiu decisivamente para uma revisão da leitura da poesia barroca em Portugal e para o conhecimento da história da poesia visual.
O fotógrafo destaca os populares em manifestação ao lado de figuras intelectuais, como Maria Lamas e Fernando Lopes Graça, entre a confusão populacional das diversas manifestações, sendo a do 1.º de Maio de 1974 a mais participada, em especial nas zonas da Alameda, do Areeiro e de Alvalade. A proximidade de anónimos e de figuras proeminentes da cultura, da comunicação social e da política prova o entusiamo contagiante da Revolução dos Cravos e denuncia uma nova forma de viver a cultura, com um discurso acessível a todos e como um direito social.
Provas atuais em papel de revelação baritado
Em 1941 fundou, em Lisboa, o estúdio Laboratórios Fototécnicos, que manteve até 1991. Entre os anos 1940 e 1970 foi fotógrafo de cena em teatros de revista da capital, sobretudo no Parque Mayer (no Capitólio, Variedades, Maria Victória e ABC). A partir deste período, desenvolveu trabalhos fotográficos no Teatro Nacional Dona Maria II e no Teatro Nacional de São Carlos, onde retratou diversas óperas e bailados, tendo também recolhido fotografias de companhias que, a partir de 25 de Abril de 1974, se apresentaram em Lisboa, como o ballet do Teatro Bolshoi, de Moscovo, ou o Ballet Nacional de Cuba. Percorreu, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, diversos países do Leste da Europa, como a Roménia, a Polónia e a Bulgária, onde produziu imagens de diversos acontecimentos culturais e políticos.
Próximo dos populares em manifestação e atento às figuras políticas da intervenção, pontua momentos estratégicos deste movimento coletivo na cidade de Lisboa, relevando o Dia do Trabalhador, em 1974, no Parque de Jogos da INATEL. O fotógrafo captou a presença de outros com máquinas fotográficas, representando bem o ambiente de participação na construção de memórias vivenciais que, atualmente, se constituem como documentos históricos, sociais e familiares numa reconstituição pertinente para a presente comemoração.
Provas de época em papel de revelação baritado
Desempenhou funções na área da fotografia e cinema na Guiné. Entre as décadas de 1970 e 80 trabalhou na empresa Forma - Publicidade Geral, Lda. após o que optou pelo trabalho como freelancer. Expôs pela primeira vez em Lisboa, em 2002, na Galeria do Museu Rafael Bordalo Pinheiro, tendo a coleção ficado, desde então, representada no Museu de Lisboa.
O fotojornalista apresenta as suas imagens através do trabalho
Excluídos- realidades do fim do milénio 1960-2000, no qual é claramente interventivo, a partir de manifestações do impacto da guerra colonial e da descolonização, dando a ver o outro lado da Revolução. O seu olhar humanista também nos desvenda o ambiente vivido pelas classes baixas e consegue com estas despertar a consciência social para os problemas reais da população nacional. Num discurso visual a preto e branco, elege o contraste para acentuar a negritude da imagem e o drama dos acontecimentos e as suas propostas fotográficas apresentam o cunho autoral do fotógrafo, distanciando-se dos demais da sua época.
Provas de época em papel de revelação baritado
Em 1968 trocou o curso de Direito pelo Jornalismo, tendo ingressado como repórter e, mais tarde, fotojornalista, no jornal A Capital. Entre 1970 e 1977, colaborou com a revista Flama e, entre 1977 e 1979, com diversas publicações nacionais e estrangeiras, tendo sido assessor de imprensa na Junta de Turismo da Costa do Sol-Estoril. Entre 1980 e 1982, foi coordenador e colaborador permanente do jornal diário Portugal de Hoje e coordenador do suplemento semanal Cooperação. Tornou-se editor-fotográfico da revista semanal Mais, entre 1982 e 1985, e da revista Tempo Livre (do INATEL), entre 1990 e 2001. Dedicou grande parte da sua atividade jornalística a países marcados por conflitos armados e guerras de libertação, como Angola e Moçambique, entre outros. Colaborou em várias publicações internacionais, como o El País ou o Pueblo, e nacionais, como os jornais Diário de Lisboa, O Jornal ou o Expresso. Foi distinguido com vários prémios, entre os quais o Prémio Repórter do Ano, em 1983, o Prémio Gazeta do Clube de Jornalismo, em 1984 e 1985, ou o Prémio Ibn Al Haythem8, Bagdad, nos anos de 1996 e 1997.
Numa galeria de retratos, vislumbramos algumas personalidades, relevantes para a cultura portuguesa durante as décadas seguintes, formando e fomentando a arte contemporânea e os estudos em torno das questões da criação artística, para além da presença do Jornal Novo, a sua equipa e os demais participantes e consultores.
O fotógrafo acompanhou igualmente os movimentos do Partido Socialista e as manifestações populares com registos dos principais acontecimentos da época, tendo contemplado políticos relevantes para a democracia conquistada.
Provas atuais em papel de revelação baritado
Provas de contato de época em papel de revelação baritado
Aprendeu fotografia em Londres na década de 1960, trabalhou como fotógrafo de moda e publicidade entre 1968 e 1974 e, posteriormente, como fotojornalista no Jornal Novo em abril de 1975 e agosto de 1976. As suas fotografias políticas referem-se a esse período. No dia 25 de Abril resolveu filmar os acontecimentos em Super8, em vez de fotografar, mas esses filmes extraviaram-se. Posteriormente, mudou-se para o Brasil, onde publicou em vários suportes de informação e fez uma exposição individual no Museu de Arte de São Paulo, em 1978. A partir de 1980 deixou de fotografar, tendo optado pelo jornalismo, profissão que mantém até hoje.
É um dos nomes incontornáveis do período pós-revolucionário, enquanto agente de intervenção e, principalmente, como reformulador do conceito estético. Homem de inúmeros interesses, culto, atento, criativo e agitador, conseguiu conciliar os artistas e a expressão social e política numa “performance” que marcaria a arte contemporânea portuguesa. O que lhe importava eram os valores da operação criativa atuante e não tanto da obra final.
Projeção digital a partir dos diapositivos cromogéneos em acetato de celulose
Iniciou a sua produção fotográfica na década de 1940. Numa primeira fase, executou, predominantemente, levantamentos etnográficos, registos de arte popular e de escultura, bem como retratos em contexto urbano e organizou uma exposição de arte moderna e arte africana (1946), onde integrou obras originais de artistas do modernismo português, entre os quais, Amadeo de Souza-Cardoso e Almada Negreiros. Colaborou em diversas publicações, como crítico de arte, tais como, Seara Nova, Mundo Literário, Portucale, Vértice e tornou-se defensor do movimento neorrealista. Fundou o Círculo de Cinema, um dos primeiros cineclubes portugueses. No final desta década, iniciou a sua atividade cinematográfica, que o levou a fixar-se algum tempo em Paris (1949-1952), onde frequentou estudos de história do cinema, filmologia e técnicas de som. Escreveu para a revista Plano Focal (1953), da qual foi chefe de redação. Até aos anos 80 do século XX, continuou a sua intensa atividade teórica e artística, tendo sido curador de diversos projetos expositivos e dirigido a galeria Diferença (1978-1987).
Com uma vasta obra de fotografias documentais, o autor preservou a memória destas manifestações artísticas efémeras, que cobriam várias zonas da cidade, atualmente inexistentes e só presentes na memória de alguns. O seu trabalho, em imagens a cores, conseguiu resguardar estas obras, por vezes contestadas, devido ao enunciado reacionário e à força das mensagens, que conviviam com os lisboetas, estivessem estas nos espaços de passagem, nos edifícios habitacionais ou nas instituições de ensino.
Projeção digital a partir dos diapositivos cromogéneos em acetato de celulose
Colaborou com diversos jornais e revistas, como o Diário de Lisboa, A Capital, Planície, Correio do Ribatejo e Diário de Coimbra. Organizou e publicou, em 1962, a obra Bibliografia, de Jaime Cortesão. Participou, também, na coleção Cadernos do tempo presente. Em 1967, a convite do governo brasileiro, deslocou-se ao Brasil, onde apresentou diversas conferências sobre literatura contemporânea portuguesa. A maior parte dos seus textos, sobretudo após o 25 de Abril de 1974, incidiram sobre temáticas como a contestação política e os movimentos grevistas.
O conjunto fotográfico, adquirido ao jornal para colmatar a ausência do registo fotográfico no Arquivo Municipal, ilustra o dia da Revolução, em especial nos locais de intervenção militar. Em algumas imagens também vemos os teatros emblemáticos da cidade (teatro da Trindade e teatro Dona Maria II) com alusão aos cartazes dos seus espetáculos, testemunhos da existência das manifestações culturais lisboetas.
Provas de época em papel de revelação baritado coladas sobre fichas de inventário
Conjunto documental à guarda do Arquivo Municipal que retrata algumas reportagens sobre visitas oficiais a Portugal, por parte de entidades de outros países, nomeadamente a do Generalíssimo Franco em 1949 e a de Isabel II de Inglaterra em 1957. Alguns acontecimentos oficiais da vida política portuguesa com representantes do governo e do município. A revolução de 25 de Abril de 1974; o incêndio na casa Lanalgo; alguns aspetos dos mercados municipais de Lisboa.
Luis Pavão
Um jovem fotógrafo em 1974, captou momentos peculiares e as manifestações que o cativaram, acompanhando o frenesim revolucionário da cidade de Lisboa e de outros locais do país. Com um evidente interesse pela força operária que se mostrou na praça do Comércio e em avenidas da cidade, também focou as expressões de contestação sobre a habitação e os problemas das classes desfavorecidas.
Provas atuais em papel de revelação baritado
Até 1986, trabalhou como fotógrafo freelancer, sobretudo no Alentejo e em Lisboa, na área da ilustração, colaborando na produção de coleções de postais, folhetos e publicações de âmbito regional. Entre 1986 e 1989, estudou Conservação de Fotografia, em Rochester (EUA). Conservador das coleções de fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa desde 1991, fez levantamentos fotográficos sobre a cidade. Entre 1989 e 2001, desenvolveu atividades letivas na área da tecnologia da fotografia e processos fotográficos históricos alternativos, nas escolas AR.CO, em Lisboa. De 2001 a 2015, foi professor na Licenciatura de Fotografia (Instituto Politécnico de Tomar). Atualmente tem colaborado com a Universidade Autónoma de Barcelona. Dirige a empresa LUPA - Luis Pavão Lda.
Margaret Martins
A fotógrafa registou a longevidade das expressões criativas com mensagens de intervenção social, preservadas nos murais da autoria conjunta de artistas e populares e num peculiar cartaz, num testemunho temporal dos resquícios da Revolução de Abril, apologia de uma resistência popular por uma vida com condições dignificantes.
Provas de época cromogéneas plastificadas
Começou a fotografar desde os quinze anos, inicialmente a preto e branco, depois a cor na década de 1970. Fez duas exposições individuais, Travel Photographs, realizada na Travel Bookshop em Londres (1985) e Images of Revolution - Photographs of Political Art in Portugal, na Phoenix Picturehouse de Oxford (2000).
Projetado pela primeira vez na Videoteca Municipal em abril de 2004 numa sessão integrada no ciclo que celebrava os 30 anos da Revolução de Abril, o filme Memória dos Dias na Fala das Paredes, que convoca a importância de um movimento comunitário recuperando os slogans da Revolução, é exibido 20 anos depois. Esta atualização, num presente abrangente de questões colocadas num tempo passado, é uma das suas grandes qualidades que hoje, em 2024, meio século depois, continua a ter uma pertinente atualidade.
Cópia digital do formato original Super8, cor e sem som
Aos 14 anos, enquanto descobria o cinema scope, nascia o fascínio pela magia do cinema. A partir da década de 1970 aproximou-se dos cineclubes, designadamente do Clube Microcine, e começou a filmar em Super8 realizando pequenos documentários. A sua ligação ao cineclube Microcine abriu-lhe portas para um admirável mundo novo, permitindo conhecer figuras apaixonantes como António Cunha, Ernesto de Sousa ou Júlio Conrado, que partilhavam além do fascínio pelo cinema amador. Participou, em 2003, na Mostra de Vídeo Português com duas curtas-metragens em MiniDV: Sinfonia de Pedra, 2000 (9’31’’) e Rio do Ouro, 2000 (17’20’’). Entre 1977 e 1980, em pleno período pós-revolucionário, saiu à rua para filmar os murais hoje desaparecidos, com as marcas da expressão maior da liberdade que o povo deixou nas paredes de Lisboa.