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Os Verdes Anos, comentado por Pedro Boléo Rodrigues

'Os Verdes Anos'

Comentado por Pedro Boléo Rodrigues

Um marco na história do cinema português, em particular do Novo Cinema, 'OS VERDES ANOS' (1963) de Paulo Rocha lançou um olhar original sobre as Avenidas Novas da cidade de Lisboa e tornou-se indissociável da música de Carlos Paredes.

Pedro Boléo  comenta a partir desta música as deambulações tímidas, incertas e assustadas de Júlio (Rui Gomes), o jovem aprendiz de sapateiro, acabado de chegar a uma cidade feita de betão e asfalto onde não se encaixa.

A música de Paredes é o veículo melódico, harmónico e, por vezes, dissonante de um filme cheio de silêncios, efeitos sonoros parcimoniosamente colocados – numa estética contida onde Pedro Boléo percebe já o fascínio de Paulo Rocha pelos mestres japoneses – e vozes on e off, afastadas na sua aparente solidão. No poema de Pedro Tamen, cantado por Teresa Paula, que verbaliza o tema principal de Paredes, "[e]ra o amor que chegava e partia", mas também "[e]ra um segredo sem ninguém para ouvir: eram enganos e era um medo, a morte a rir nos nossos [deles] verdes anos..." 

Pedro Boléo recorda ainda que estes eram também os “verdes anos” dos envolvidos neste filme – António da Cunha Telles, que o produziu, Nuno Bragança, que escreveu os diálogos, Isabel Ruth, que se estreava no cinema, e o próprio Paulo Rocha, que fazia a sua primeira longa-metragem e, como Júlio, viera da província, de Santo Tirso para a capital – a geração do mítico café Vá-Vá, no cruzamento da Avenida de Roma com a dos Estados Unidos da América, ponto aliás recomendado para a escuta deste episódio.