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Arquivo
Fotografia

|a imagem contextualizada| 2024

Esta edição com propostas expositivas de J (ˈdʒeɪ), 'quark', João Corvo, 'WANG', Margarida Leal, 'Still Installation' e Vera Cruz, 'Ensaios e Encenações'

24 out - 22 nov 2024
18:30
Entrada livre

| a imagem contextualizada | é um projeto de dinamização da sala de leitura do Arquivo Fotográfico, promovendo-a como lugar de exposição e debate.
Convidamos jovens estudantes de artes para expor, e críticos de arte para um “à conversa com…”. 

Este ano à conversa com Bruno Humberto, programador e co-editor da revista de arte contemporânea 'Wrong Wrong' e os quatro autores:

J (ˈdʒeɪ), 'quark'
«Deambulando pela estrada numa constante exploração dos espaços limiares procuro pelo sentido de ser. Estou presa em mim, incapaz de coexistir com os reflexos ruidosos que me rodeiam. Sinto-me nostálgica por nenhuma memória em particular, mas sim pelos acasos que acontecem no instante efémero que é o tempo verbal presente. Raros são os dias que me confronto com o mundo exterior, não sei o que é ter o sol a queimar-me a pele ou a lua a iluminar os caracóis que aparecem durante a chuva. Navego através do vaso condutor com que se cose o tecido da realidade na esperança de obter clareza ao cruzar o espectro da intuição. Enrolo-me em mim mesma como se fosse um bicho-de-conta, estico-me como uma lesma na tentativa de alcançar o grito interior de quem não quer ser ele próprio.»

J (ˈdʒeɪ) É finalista da Licenciatura de Fotografia pela Universidade Lusófona Lisboa. Frequentou o CTeSP de Som e Imagem (2018-2021), na Escola Superior de Tecnologias de Abrantes, Instituto Politécnico de Tomar.



João Corvo, 'WANG'
«O projeto WANG, surge de uma reinterpretação de uma parte de um arquivo corporativo da Wang Laboratories, no caso específico deste fragmento do arquivo, exploro os retratos corporativos no segundo momento. No primeiro momento, a criação da imagem passa por o seu autor, conceber o seu enquadramento e conceber uma decisão na qual a define de acordo com o seu olhar perante o mundo. O segundo momento, vem depois da imagem se materializar enquanto objeto. Após isso abre novas perspetivas sobre um segundo olhar do autor, dando assim lugar à edição fotográfica. E, por fim, o terceiro momento, sendo este a última etapa no processo; a exposição de uma imagem final ao publico fechando quaisquer outras possibilidades na escolha. Posto isto,  é possível ver a linguagem na qual o retratado se relaciona com a câmera, e de um certo modo poder-se-á considerar os seguintes detalhes; fundo, pose, expressão facial e indumentária. Este é um dos géneros de fotografia mais usado na história. Desde a sua invenção a fotografia veio substituir o retrato na pintura, trazendo para o contemporâneo este género, onde as redes sociais proporcionam uma propagação mais vasta deste tipo de imagem. Assim, é cada vez mais raro termos acesso a uma série de retratos onde vemos a escolha na qual prevalece para a memória, muitas das vezes sendo considerado o retrato escolhido que menos representa o retratado. Desta forma a escolha da imagem final perante as outras pode revelar diversas leituras, a qual depende muito do seu meio de divulgação e contexto.

A fotografia implica diretamente a memória, sendo a memória o nosso referencial quando optamos por registar ou acumular certa informação. Partindo do ponto que a fotografia é apenas uma representação da realidade, podemos dizer que é um corte no espaço-tempo, onde fica registada um certo momento do real, sendo este que poderá ser partilhado numa ideia de imagem que cria várias realidades que desafiam a memória. Desta forma a fotografia apresenta-se como uma construtora e produtora de memórias, sejam estas de qualquer tipo de caráter, forçam sempre que olhemos para as mesmas  como uma reinterpretação e resgate da memória criada, desde a primeira vez que as presenciamos. A fotografia desde o séc. XIX passou a ser o suporte ideal para o registo das memórias da humanidade, graças à sua representação mais fiável que a pintura ou escultura, pois credita o momento perante uma afirmação de uma certa realidade. A memória construída a partir de uma imagem, evocam redes de significados, nos quais podem ser singulares ou múltiplos. Isto é, o observador ao estar perante uma imagem pode estabelecer conexões imagéticas, atribuição de certas palavras e sonoridades. Estes fazem todos parte de uma provocação de uma cumplicidade entre o observador e a imagem, onde esse preciso momento começa a transcender e permanece uma realidade da nossa memória. O arquivo fotográfico tem o poder de construir e destruir a memória, sendo transformado por cada sujeito que o interpreta.»

João Corvo Nasceu em Olhão, em 2000. Formou-se em fotografia no Instituto Português de Fotografia de Lisboa, e no Instituto Superior Técnico (Núcleo Artístico Fotográfico Grau I e II). Licenciou-se em Fotografia no Instituto Politécnico de Tomar em 2023. Atualmente, frequenta o Atelier de Lisboa no Projeto de Construção de Livro e o Mestrado de Artes de Som e Imagem na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.



Margarida Leal, 'Still Installation'
«Este ensaio explora a complexidade da vulnerabilidade e da interligação que infiltram as nossas vidas. Há um fio que nos rodeia e que forma uma teia intrincada, onde dependência e reciprocidade se entrelaçam numa delicada dança construída por passos de paixão. No mergulho pela contemplação da vastidão desta rede, somos levados pela reflexão sobre o fluxo contínuo dos recursos naturais que sustentam o nosso mundo e que, com uma pitada de saudade, nos controlam. Nesse frenesim, sentimos os ritmos que governam a existência e, por vezes, a agonia dos conflitos que surgem. É nesse espaço de observação e reflexão que percebemos o quão densa é a relação entre todos os elementos que compõem a vida, revelando a fragilidade e a beleza da nossa interdependência. Há um ínfimo pormenor, há uma pose, existe também uma pele pontilhadapor expectativa.»

Margarida Leal é uma artista multidisciplinar de Lisboa, que integra experimentação e contemporaneidade nos seus valores e práticas de trabalho. Atualmente, estuda Design de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e dedica-se especialmente à Fotografia Analógica e Experimental.



Vera Cruz, 'Ensaios e Encenações'
«Sobe e desce o espelho.
CLICK
Corre a cortina.
Um instante em 1/250.
SHLOCK
Um novo número na janela.
CLICK
Do mundo,
o doce e o amargo,
imponente,
invasivo.
Atenta aos sons (constantes),
luzes (ora quentes ora frias, encadeantes),
sombras (cerradas),
texturas (que me aliciam e fazem salivar),
formas (suaves ou estridentes),
cheiros (cativantes ou avessos),
conceitos (para aprender ou desfazer),
em acasos e construções.
Compreendo - como quem entende e também como quem encerra - essa realidade numa encenação.
Descubro no visor
num 35
num 6x6
num pequeno instantâneo
no vidro do scanner
no ecrã do telemóvel
nos olhos
onde é que ela encaixa.
E eu, onde é que eu me encontro.
Dentro,
Uma necessidade de expressão e questionamentos constantes sobre sensações
hábitos
costumes
e estruturas, ora firmes ora ruídas,
como as minhas unhas.
E desmonto-os.
Brinco com eles.
Construo uma casa de lego e enquadro-a na minha câmera.
SHLOCK
Desejo fundir o corpo no espaço,
os objetos no corpo,
o real e o imaginário.
Explorar as diferentes facetas de uma só identidade, fotograma atrás de fotograma.
Agora, objetos e versões de si mesmos.
CLICK
Criar é brincar e
um sopro cego.»


Vera Cruz (Torres Vedras, 2000) é artista visual e estudou no Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa (2020-2023) onde redescobrir a câmara fotográfica enquanto ferramenta para compreender a realidade e explorar a própria identidade. Desde então, entre acasos e encenações, assumiu o carácter experimental do seu trabalho.


Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico

Rua da Palma, 246
1100-394 LISBOA

Segunda a sábado das 10:00 às 18:00
Encerra aos domingos e feriados.


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