Detalhe
Carlos Paredes, 100 anos
No ano em que se celebra o centenário do nascimento do compositor e guitarrista Carlos Paredes, o Arquivo Municipal de Lisboa assinala a efeméride, apresentando, como documento do mês de maio, a imagem do mural intitulado Verdes Anos. O documento integra o acervo do Arquivo Municipal de Lisboa, mais concretamente a coleção Galeria de Arte Urbana (GAU), que reúne cerca de 2800 documentos digitais e constitui um registo significativo das atividades promovidas pela galeria. A coleção é composta por imagens de intervenções artísticas realizadas em espaços da cidade de Lisboa, atividade dos artistas no momento da criação, contexto de produção das obras e ambiente urbanístico envolvente. Considerando o caráter efémero das manifestações de arte urbana, o processo de documentação e divulgação é fundamental para preservar a memória cultural e artística associada a este tipo de expressão.
Desde a sua criação, em 2008, a Galeria de Arte Urbana (GAU), do Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, tem desempenhado um papel crucial na articulação entre o território e a expressão artística. A sua missão principal consiste na promoção do graffiti e da arte urbana em Lisboa, num contexto autorizado e com respeito pelos valores patrimoniais e paisagísticos.
O mural intitulado Verdes Anos, da autoria do street artist João Samina e captado pela lente do fotógrafo José Vicente encontra-se na avenida David Mourão Ferreira, na freguesia do Lumiar, em Lisboa. Foi realizado em 2019, no âmbito da 3.ª edição do MURO - Festival de Arte Urbana_LX, que teve como mote a música. O MURO - Festival de Arte Urbana de Lisboa foi criado em 2016 e tem por missão a promoção de artistas nacionais e estrangeiros, incentivando a criação de arte no espaço público. Cada edição do Festival tem lugar numa freguesia diferente, fomentando a colaboração entre artistas e comunidades locais. Esta dinâmica valoriza espaços subutilizados, conferindo-lhes uma nova aparência e promovendo o seu apreço por parte dos habitantes locais. O fotógrafo José Vicente, autor da imagem selecionada, tem contribuído ativamente para a divulgação da arte urbana na cidade.
João Samina, nasceu em Setúbal em 1989, assina os seus trabalhos como SAMINA. Licenciado e mestre em Arquitetura, dedica-se à arte urbana desde os catorze anos e é conhecido pelos murais que podemos encontrar em Portugal e noutros países.
Nesta criação em particular, João Samina homenageia a cultura portuguesa, destacando a relação entre a música e o cinema e, em simultâneo, presta homenagem a Carlos Paredes e a Paulo Rocha. O filme Verdes Anos, de 1963, realizado por Paulo Rocha, marcou o início do chamado Novo Cinema Português e apresenta acanção Verdes Anos como tema musical central. Com composição de CarlosParedes,inicialmente instrumental, o tema foi editado como canção Verdes Anos no álbum Guitarra Portuguesa em 1967. A versão cantada conta com a participação da voz da cantora Teresa Paula Brito e com letra da autoria de Pedro Tamen.
Carlos Paredes (1925-2004) nasceu em Coimbra a 16 de fevereiro de 1925 e é filho de Artur Paredes (1899-1980), bancário, intérprete e mestre da guitarra. É com ele que inicia o estudo da guitarra portuguesa aos doze anos de idade. Aos catorze começou a acompanhar regularmente o pai nomeadamente no programa da Emissora Nacional. Foi admitido no curso Industrial do Instituto Superior Técnico, mas não concluiu os estudos. Ingressou no serviço militar obrigatório em 1947. Entre 1949 e 1958 desempenhou funções como funcionário administrativo do Ministério da Saúde. Em 1957 gravou o seu primeiro EP para aeditora Alvorada. Em 26 de setembro de 1958 foi detido pelos Serviços Centrais da PIDE, tendo sido libertado em 21 de dezembro de 1959. No ano seguinte foi expulso de funções públicas, acusado de militância no Partido Comunista Português. Foi reintegrado em outubro de 1974, ocupando o cargo de funcionário no serviço de arquivo de radiografias, do Hospital de São José, onde permaneceu até se reformar a 1 de novembro de 1986. Não obstante ter-se tornado um dos maiores nomes da guitarra portuguesa, Carlos Paredes só viveu exclusivamente da música a partir desta data, tendo afirmado –
“gosto demasiado da música para viver às custas dela.”
A sua vasta obra musical inclui a colaboração com o cinema, com a música do seu repertório a ser utilizada em inúmeras bandas sonoras como: Rendas de Metais Preciosos (Cândido Costa Pinto, 1960), Verdes Anos (Paulo Rocha, 1962), Fado Corrido (Jorge Brum do Canto, 1964), O Render dos Heróis (José Cardoso Pires, 1964), As pinturas do meu irmão Júlio (Manoel de Oliveira, 1965), Mudar de Vida (Paulo Rocha, 1966), A cidade (José Fonseca e Costa, 1968), The Columbus Route (José Fonseca e Costa,1969), Na Corrente (Augusto Cabrita,1969), Hello Jim! (Augusto Cabrita, 1970), A noite, para a peça O Gebo e a Sombra (Raúl Brandão, 1987), A dança, tema integrado na banda sonora da digressão mundial de Paul McCartney, 1989. O primeiro concerto em nome próprio teve lugar no Auditório Carlos Alberto, no Porto em 1984. A sua derradeira atuação ao vivo ocorreu em 1993, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. O falecimento do artista, ocorreu em 2004 em consequência de uma doença do foro neurológico.
A arte urbana, embora efémera, desempenha um papel pedagógico nas comunidades ao abordar temas culturais, políticos e sociais. Transforma a paisagem das cidades e veicula a valorização dos espaços e das suas comunidades.
Sílvia Reis, Arquivo Municipal de Lisboa
Maio 2025
Webgrafia
Conheça melhor Carlos Paredes, Museu do Fado [consult. 2025-01-07 11:55].
Guitarra de Coimbra V, Blog 16 fevereiro 2013 [consult. 2025-01-07 11:50].
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Galeria de Arte Urbana - Câmara Municipal de Lisboa [consult. 2025-01-06 12:13].
Carlos Paredes. «Sou um homem que toca guitarra … que tem isso?», Jornal Ionline [consult. 2025-01-07 12:42].
“PORQUE GOSTO DEMASIADO DA MÚSICA PARA VIVER ÀS CUSTAS DELA” – CARLOS PAREDES, Margarida Pedroso Ferreira [consult. 2025-01-07 12:42].
Festival Muro - Câmara Municipal de Lisboa [consult. 2025-03-11 14:52].
A Rua Maria Margarida da Cruz Vermelha e o Carlos Paredes do artista Samina, Toponímia de Lisboa [consult. 2025-03-12 11:56].
João Samina, sítio [consult. 2025-03-12 12:03].