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Detalhe

25 anos da Expo 98

Património para o Futuro

Área de intervenção, dezembro de 1991
Área de intervenção, dezembro de 1991

registo no catálogo

Com o tema “Os Oceanos – Um Património para o Futuro” a Exposição Internacional de Lisboa, designada, abreviadamente, de Expo 98, decorreu em Lisboa entre 22 de maio e 30 de setembro de 1998, teve a participação de “146 países e 14 organizações internacionais, […] [por isso] a mais internacional das exposições realizada até à data”1. Foi visitada por 10 128 204 pessoas2, e propôs-se 

“fazer o ponto de situação dos conhecimentos actuais sobre os oceanos, tentando projectar a contribuição desses conhecimentos para a resolução dos problemas mais urgentes relativos à salvaguarda do património marítimo; fazer o balanço da experiência dos dois últimos decénios de utilização dos oceanos, nomeadamente as consequências provocadas por determinadas aspectos dessa utilização progressiva; sublinhar a interdependência entre os oceanos e a atmosfera, e os efeitos dessa interdependência, nomeadamente no clima; […] levar os países interessados na temática dos oceanos a reflectir em conjunto sobre o que há a fazer em matéria de defesa do património marítimo; criar, para esse efeito, um fórum de intercâmbio de informações e experiências, que constituiria a base de um centro internacional de pesquisa e reflexão e prolongaria o efeito da exposição após 1998 [e] contribuir, por meio de grandes manifestações de massas, para o êxito dos esforços da comunidade internacional para uma nova política dos oceanos.”3

Se o objetivo de Portugal com a Expo 98 foi alertar para os riscos da vida marítima causados pela inadequada utilização dos oceanos pelo Homem (um tema bastante atual) e lançar uma discussão a nível global sobre esta preocupação, a execução do respetivo projeto revelou-se a solução para problemas internos de índole ambiental.

Foi, pois, “uma oportunidade única para a requalificação e recuperação urbana da zona oriental”4 da cidade de Lisboa, com cerca de 340 hectares, que se caracterizava por degradação paisagística e poluição ambiental, onde se encontravam a laborar “a refinaria da PETROGAL, a armazenagem de produtos petrolíferos (SHELL, MOBIL, BP e PETROGAL, o Matadouro Industrial de Lisboa, o Depósito de Material de Guerra de Beirolas e o conjunto formado pelas instalações da Câmara Municipal de Lisboa (ETAR, Aterro Sanitário e Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos. Destaque ainda, para a Ponte Cais de Cabo Ruivo, localizada a sul da Doca dos Olivais, onde se faz[ia] a descarga dos produtos petrolíferos para os reservatórios.”5

Na zona desenvolviam-se também atividades portuárias concentradas sobretudo “na faixa marginal do rio Tejo, a norte e sul da Doca dos Olivais”6 , e outras inerentes, tais como o entreposto frigorífico da FRISSUL e duas empresas que fabricavam betão, implantadas a montante do Depósito de Material de Guerra, próximo dos operadores portuários que faziam grupagem e descarga de areias.
 
Inseridas em todo este contexto industrial existiam “pequenas áreas habitacionais: uma situada entre o Matadouro e a linha de caminhos de ferro do Norte, com habitação precária e barracas; outra, a sul daquele, com habitação antiga bastante degradada; uma terceira, com características idênticas à segunda e que fica[va] encaixada entre os armazens da J. B. Fernandes e a MOBIL”7 .

O documento em destaque é memória visual do território onde foi construída a Expo 98 e permite ter-se uma noção da caracterização atrás apresentada, destacando-se de imediato os depósitos de combustível. Trata-se de uma cópia da fotografia aérea da área onde iria ser feita a intervenção e faz parte do relatório intitulado “Exposição internacional de Lisboa 1998: relatório, grupo de trabalho criado por despacho ministerial conjunto de 11.04.91”8. Este documento pertence ao fundo Parque Expo 98, SA que se encontra à guarda do Arquivo Municipal de Lisboa.

Este relatório resultou das funções que o Governo incumbiu ao Grupo de Trabalho (GT), constituído, por nomeação, pelo engenheiro Rui Silva e Santos, presidente da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (CNCDP), pelo engenheiro Fernando Perry da Câmara, representante do Ministro do Planeamento e da Administração do Território (MPAT), pelo engenheiro Rui Soares Mendonça, representante do Ministério da Indústria e da Energia e pelo arquiteto Fernando Schiappa Campos, representante do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (MOPTC). Com o GT colaboraram, por indicação das respetivas instituições, o arquiteto José Anselmo Vaz, da Câmara Municipal de Lisboa, o engenheiro Luís Jorge, da Câmara Municipal de Loures, o arquiteto Fernando Morgado, da Administração do Porto de Lisboa, o doutor António Branco Rodrigues, do Instituto Regulador e Orientador dos Mercados Agrícolas e o professor Mirandela da Costa, representante do Ministério da Educação.

O Governo, após ter submetido candidatura ao Bureau International des Expositions9  (BIE) em 14 de junho de 1990 para a realização da Exposição Internacional de Lisboa de 1998, anunciou, em 1 de fevereiro de 1991, “que iria propor ao BIE a zona Oriental de Lisboa como local escolhido para a sua implantação”10

Para justificar esta escolha e para conceber a estratégia do projeto o Governo criou, em 16 de maio de 1991, o GT para que este procedesse “à elaboração de estudos específicos de carácter técnico relativos a aspectos da EXPO’98, nomeadamente quanto à delimitação da sua localização e abrangendo zonas envolventes” que deveriam “incidir sobre todas as questões técnicas colocadas pela Comissão de Inquérito do BIE”, para que a Comissão de Promoção da Expo 98, comissariada por António Mega Ferreira (1949-2022), estivesse habilitada a responder ao “Bureau Internacional des Expositions: pre-enquête: Lisbon”11. Por conseguinte, foi elaborado o “Plano Diretor Preliminar da EXPO’98” que, além de dar resposta aos quesitos do BIE, assegurou “um cenário possível quer de integração dos espaços da EXPO na cidade quer da intervenção urbanística necessária à realização da mesma e ao reordenamento e recuperação da Zona Oriental de Lisboa”.12
 
O GT foi também incumbido de “propor medidas de carácter legislativo, técnico, administrativo ou outro, que consider[asse] necessárias para dar exequibilidade às soluções preconizadas para a zona da localização da EXPO’98”.13
 
A competência e o empenho do GT na execução destes estudos e no relatório resultante permitiram que “a candidatura portuguesa […] fo[sse] votada favoravelmente na Assembleia-Geral [do BIE] de 23 de Junho de 1992, […] obt[endo] 23 votos contra os 18 a favor da candidatura de Toronto”.14
 
Embora em maio de 2023 se assinalem os 25 anos do evento Expo 98, o seu reconhecido sucesso deveu-se ao vasto e exigente trabalho prévio não só dos nomes já referidos, mas de muito mais pessoas envolvidas. A todos eles agradecemos este “património para o futuro”.

Estes e outros documentos sobre o mesmo assunto podem ser consultados na base de dados do Arquivo.

Ana Saraiva
Maio 2023
Arquivo Municipal de Lisboa 


1  EXPO 98 – Exposição Mundial de Lisboa de 1998: relatório. Lisboa: Expo’98, 1999. p. 142.
2  Idem, p. 274. 
3  Arquivo Municipal de Lisboa, Relatório final, comissão de promoção da exposição internacional de Lisboa de 1998, 07-1992, PT/AMLSB/PAE/EX98/01/0005.
4  Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/PAE/EX98/01/0004, página 19.
5  Idem, p. 28-29.
6  Idem, p. 29.
7  Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/PAE/EX98/01/0004, página 29.
8  Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/PAE/EX98/01/0004.
9  Organismo internacional fundado em 1928, com sede em Paris, França, para regulamentar e organizar exposições internacionais de modo a evitar disparidades.
10  Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/PAE/EX98/01/0004, página 9.
11  Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/PAE/01/0007.
12  Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/PAE/EX98/01/0004, página 89.
13  Idem, p. 9.
14  EXPO 98 – Exposição Mundial de Lisboa de 1998: relatório. Lisboa: Expo’98, 1999. p. 16.