Detalhe

O Arquivo Municipal de Lisboa (AML) tem no seu espólio um conjunto documental composto por um total de 553 fotografias, cuidadosamente agrupadas por 7 álbuns onde, em cada um deles, está documentada a construção dos seguintes Mercados Municipais: do Lumiar, do Arco do Cego, de Olivais-Sul Célula B, de Olivais-Sul Célula E, de São Domingos de Benfica, dos Prazeres e o de Benfica. Para além destes existem outros 2 álbuns que documentam o Centro de Inspeção e Classificação de Ovos e o do Matadouro de Aves de Alvalade - Norte.

Este conjunto documental, incorporado no espólio do AML entre 1967 e 1979, é da responsabilidade da 1ª Repartição – Mercados, Feiras e Fiscalização Sanitária, da Direção de Serviços de Abastecimento, onde se integravam todos os Mercados Municipais de Lisboa. O chefe desta Repartição à época, José Salles Gomes, entendeu que seria interessante documentar as diversas fases de construção destes Mercados, através da fotografia, por fazerem parte da história da cidade e por serem uma mais-valia para o espólio do Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa.

Na sequência deste propósito foi efetuado um exaustivo levantamento fotográfico, entre 1950 e 1971, período de construção destes equipamentos, que ficou a dever-se a Fernando Martins Santana, Fiscal-Chefe de Mercados daquela Repartição. Neste levantamento encontramos fotografias que documentam, não só, algumas das instalações dos antigos mercados de levante e de venda ambulante, como também, a evolução dos trabalhos de construção dos novos Mercados Municipais de Lisboa que vieram servir as necessidades da crescente população, em vários pontos periféricos da cidade. Estes álbuns estão organizados na coleção intitulada «Mercados Municipais de Lisboa» estando em curso o seu tratamento arquivístico.

As duas imagens que apresentamos documentam o terreno onde veio a ser construído o Mercado de Benfica e, na mesma perspetiva do observador, o mercado numa fase avançada da sua construção.

O álbum do Mercado de Benfica é formado por 110 fotografias que nos mostram, numa fase inicial (1967), o terreno da Quinta da Casquilha, onde veio a ser construído o Mercado, os vários aspetos da evolução da obra de construção e as visitas oficiais às obras, do presidente e do vice-presidente da CML, França Borges e Aníbal David, respetivamente, acompanhados pelo arquiteto Fernando Costa Belém, autor do projeto.

As primeiras páginas do álbum mostram-nos a carta de intenção e apresentação deste levantamento fotográfico, seguida de 3 páginas de texto datilografado que nos fazem uma síntese de tudo que envolveu o projeto de construção, iniciado no dia 6 de novembro de 1968. Desde a história das antigas concessões de venda de produtos na avenida Grão Vasco, o nome do arquiteto responsável pelo projeto e o da empresa construtora do novo mercado, o montante inicial da obra, Esc. 12 723 700$00, e os montantes que se foram adicionando, devidos a encargos das diversas alterações que tiveram de ser feitas e que vieram a atingir um valor final de Esc. 18 616 937$80. Por fim, a listagem de títulos da série de fotografias captadas durante a construção, numeradas e datadas, e que culminam no dia da inauguração do Mercado realizada em 19 de outubro de 1971.

A inauguração do Mercado de Benfica veio pôr fim ao Mercado de Levante que funcionou na avenida Grão Vasco desde 3 de julho de 1948. Este último substituiu uns antigos armazéns, na mesma avenida, pertencentes a José Teófilo de Oliveira Leone, cuja concessão foi dada através de escritura de 17 de março de 1923, por um período de 10 anos, que depois se prolongou por mais 15 anos e que findou em 1948. As poucas condições de higiene e sanitárias, destes locais, ditaram a construção de um novo mercado que viesse colmatar as necessidades de equipamentos de venda de produtos, que servissem a crescente população da freguesia de Benfica.

Passados cinquenta e quatro anos da sua existência o Mercado de Benfica continua a ser um dos maiores de Lisboa, com 2800 m2 de área. Ao longo do tempo foi-se modernizando nas suas valências dinamizando e fortalecendo a ligação com as populações. É, atualmente, gerido pela Junta de Freguesia de Benfica desde a Reorganização Administrativa de Lisboa, vertida na Lei nº 56/2012, de 8 de novembro, e operacionalizada em 2014. O mesmo aconteceu com outros equipamentos municipais congéneres que passaram a ser geridos pelas juntas de freguesia, onde estão inseridos, num total de 24 dos 27 Mercados Municipais existentes em Lisboa.

Os Mercados Municipais concebidos, sobretudo, para a venda de produtos alimentares, vieram valorizar e desenvolver as áreas urbanas, onde foram construídos, dando continuidade à missão de valorização da tradição e proximidade direta entre comerciantes e clientes.

Maria José Silva, Arquivo Municipal de Lisboa
Agosto 2025

Bibliografia

Plano Municipal dos Mercados de Lisboa 2016-2020 [consult. 2025-06-23].