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Arquivo
Fotografia

|a imagem contextualizada|

'Bolor Bolor Bolor', Marcelino | 'bit_flip', António Bezerra | 'Emptiness and More Melody', Patrícia Dias

05 dez 2025 - 31 jan 2026
10:00 - 18:00
Entrada livre

| a imagem contextualizada | é um projeto de dinamização da sala de leitura do Arquivo Fotográfico, promovendo-a como lugar de exposição e debate. 

Esta edição acolhe os trabalhos dos alunos da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa: AntónioBezerra, Marcelino e Patrícia Dias. Filipe Pinto é o convidado que contextualiza os seus trabalhos na conversa com os autores agendada para dia 4 de dezembro, às 18:30, que marca a abertura desta edição.

«Haverá alguma coisa que não seja constituída por coisas? Haverá alguma coisa que seja una e indivisível, uma coisa última, sem mais para além dela? Uma coisa que não tenha interior? Uma última superfície, um disco de Odin?

Em O Livro de Areia, Jorge Luís Borges fala de um tal fenómeno: “Já um pouco receoso, na palma da mão pus-lhe a ponta dos meus dedos. Senti uma coisa fria e vi um brilho qualquer. Depois a mão fechou-se, de repente. Eu nada disse e o outro continuou cheio de paciência, como se estivesse a falar com uma criança. – É de ouro? – perguntei. – Não sei. É o disco de Odin e só tem um lado.” A última coisa só terá um lado – será um fundo como ainda não se viu.

O conhecimento do mundo sempre se baseou na escavação, na busca de uma profundidade final; as aparências – as superfícies – iludem, diz-se. As coisas que vêm tapam as coisas que existiam; se não houvesse novo tudo se apresentaria estendido e visível, sem se necessitar de destapar, descobrir, descortinar, desvelar. Conhece-se um corpo pela dissecação e pelo raio X, por exemplo; conhece-se uma coisa pelas matérias e partículas pelas quais é composta. Na escavação pelo fundamento das coisas, os gregos pararam no átomo, elemento constituinte de todas as coisas; e indivisível, quer dizer, tão último que seria a última coisa e por isso sempre completa, íntegra e explícita. A ciência moderna mostrou afinal que o átomo tem coisas lá dentro – electrões, protões, neutrões, quarks. Crê-se ainda não se ter chegado ao fundamento das coisas, dada a selvajaria do mundo sub-atómico, com as suas leis fugidias, onde até a circunstância de algo ser visto altera o próprio estado das coisas que se tenta observar. Que última coisa não tem nada dentro? Que última coisa não tem interior, que coisa seria essa que não tem mais nada para além dela, da sua superfície? Ainda não se encontrou um disco de Odin; até agora, todas as coisas conhecidas terão pelo menos dois lados – o de cá e o de lá, frente e trás, verso e reverso, direito e avesso.»

Filipe Pinto, artista e e ensaísta

Bolor Bolor Bolor

Marcelino

“Bolor Bolor Bolor” nasce de fotografias originalmente criadas como mementos ligados ao onírico e ao sensual: velas, céus, mares, corpos. Essas imagens são repetidamente digitalizadas e impressas, com variações de resolução e escala, num processo de degradação intencional que espelha a transformação da memória: cada repetição distorce, corrompe e produz ruído, até restar apenas vestígio, o “bolor”.
As versões finais, ampliadas e recortadas para retirar o contexto da imagem original, revelam cores e texturas anómalas, criando uma entidade híbrida entre o real e o digital. O projeto inclui também composições sonoras que dialogam com as imagens, ora traduzindo-as, ora sendo por elas ilustradas — num ciclo de eco e contaminação mútua entre som e imagem, ruído e silêncio.

bit_flip

António Bezerra

Quando, ocasionalmente, partículas ou raios cósmicos colidem com dispositivo eletrónicos de armazenamento de dados no espaço, pode ocorrer a inversão de bits (a menor unidade de informação utilizada em computação, podendo assumir apenas dois valores: 0 ou 1), o que origina erros aleatórios - A este fenómeno dá-se o nome de Cosmic Bit Flip.

Inspirado por essa imprevisibilidade cósmica, Bit Flip apropria-se de imagens da Terra captadas em órbita e disponibilizadas pelo arquivo da Agência Espacial Europeia, reprocessando-as para explorar a corrupção digital como forma de transformação visual. 

Através da manipulação do código, são introduzidas interferências que desestabilizam as imagens originais, produzindo abstrações inesperadas.

Bit Flip propõe-se como uma prática de fotografia expandida na intersecção entre imagem, código e som. Ao convocar o erro como agente transformador, a obra convida a refletir sobre a representação, a materialidade e o acaso como forças de criação e evolução.

Emptiness and
More Melody

Patrícia Dias

Emptiness and More Melody surge como uma reflexão sobre a instabilidade do eu, a dissolução de hierarquias corporais e a porosidade de fronteiras entre pessoas. Partindo da fotografia enquanto campo de experimentação material e sensível, a abstração da imagem insinua um vazio, mas também um ritmo. Figuras que tanto dominam a composição como permanecem distantes sugerem uma fusão de corpos que nunca se revela como estável ou coerente. Este esbatimento de limites evidencia como características tidas como fixas - personalidade, perceção e experiência - são, na verdade, sempre fruto do fluxo de relações.
A exposição mobiliza formas de conhecimento que vão para além do racional e do estrutural, incorporando modos de compreensão não apenas visuais, mas também afectivos e sensoriais. Em paralelo, fragmentos textuais apropriados, alterados ou inventados funcionam como constelações interligadas de pensamento, refletindo a natureza colaborativa e dispersa da experiência cultural e intelectual.
Através da relação entre imagem e texto, Emptiness and More Melody propõe o eu como um local de construção mutável e relacional, suspenso numa constante negociação entre o olhar, o corpo e o outro.


Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico

Rua da Palma, 246
1100-394 LISBOA

Segunda a sábado das 10:00 às 18:00


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Segunda a sábado das 10:00 às 18:00

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